O texto abaixo, apesar de escrito por um jornalista conservador (de direita - que, em geral sempre adere aos sistemas religiosos...), reflete sobre a decisão do povo suiço em rejeitar os minaretes islâmicos. O ideal seria que se desse continuidade à proibição de construir templos de qualquer religião.
RELÓGIOS E ROUSSEAUDizem os cínicos que a Suíça deu duas coisas ao mundo: relógios e Rousseau.
Os cínicos devem acrescentar à lista a grande surpresa da semana: contra
todas as previsões, os suíços resolveram proibir a construção de minaretes
islâmicos no seu espaço nacional. Os minaretes são estruturas
arquitectónicas, em forma de torre, que permitem chamar os fiéis para a
oração.
Não mais. O Partido do Povo da Suíça, a maior organização partidária do
país, resolveu convocar um referendo. E o povo, sempre soberano, rejeitou a
"islamização" do seu espaço público. Em certos cantões, e sobretudo com o
apoio feminino (por que será?), a rejeição foi esmagadora.
A atitude dos suíços horrorizou a Europa e alguns intelectuais de serviço,
disparando da esquerda, acusam os nativos de intolerância extrema. Os suíços
têm ódio e medo perante o estrangeiro, dizem os críticos; e assim se explica
o repúdio da religião islâmica e da sua expressão arquitectónica, uma
atitude incompreensível e até irracional quando sabemos que os muçulmanos
representam 5% da população suíça e são, na sua maioris, procedentes dos
balcãs e da Turquia, e não necessariamente de países árabes extremistas.
Não pretendo contestar a opinião dos críticos. Sou um conservador liberal.
Acredito na separação entre o Estado e a Igreja e, além disso, a liberdade
de culto é condição basilar para qualquer sociedade civilizada. É por isso
que prefiro viver no Ocidente e não, por exemplo, no Islã.
Acontece que, no meio da novela suíça, dois pormenores parecem escapar aos
críticos.
Em primeiro lugar, nenhum deles parece questionar por que motivo os suíços
se organizaram para impedir a construção de minaretes mas não, por exemplo,
a construção de mais igrejas ou sinagogas.
Acusações de racismo servem apenas para iludir a verdade mais
desconfortável: o terrorismo moderno, que teve a sua apoteose com os
atentados de Nova York em 2001, não se pratica em nome da Bíblia ou da
Torah. Goste-se ou desgoste-se, ele é praticado em nome de uma particular
interpretação fundamentalista do Corão. Uma interpretação que muitas
mesquitas na Europa, e sobretudo no Reino Unido, promoveram e promovem
clandestinamente, adulterando uma vocação que deveria ser espiritual, e não
marcial.
Mas existe um segundo pormenor que importa relembrar. Disse no início que a
Suíça legou ao mundo relógios e Rousseau. Deixando de parte os relógios,
fiquemos com Rousseau. Sobretudo com a sua particular concepção de
"democracia direta" (e referendária) que constitui uma das vacas sagradas da
esquerda clássica. Se os estados justos são aqueles onde prevalece a
"vontade geral", não se percebe por que motivo a "vontade geral" dos suíços
horroriza assim tanto os seus herdeiros.
Para quem sempre divinizou a soberania popular, criticar os suíços é coisa
de reacionário.
Fonte:
http://www1. folha.uol. com.br/folha/ pensata/joaopere iracoutinho/ ult2707u659299. shtml
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