Robert Pirsig (in: "Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas")

domingo, 31 de outubro de 2010

"SERRA É DO BEN...TO!"

NOVO MOTE ELEITORAL NO AR: "SERRA É DO BEN...TO!!!"

O FUNDAMENTALISTA BENTO XVI PERDEU A NOÇÃO DE VEZ



DIRIGE UM ESTADO TEOCRÁTICO E QUER FALAR EM DEMOCRACIA NO BRASIL!
Antonio Carlos Mazzeo*

"Faces sob o sol, os olhos na cruz
Os heróis do bem prosseguem na brisa da manhã.
Vão levar ao Reino dos Minaretes a paz na ponta dos arietes
a conversão para os infiéis..."

(Agnus Sei ) Aldir Blanc

Não é que o cardeal Joseph Alois Ratzinger por alcunha, Papa Bento XVI, resolveu intrometer-se nas eleições brasileiras? Ingenuidade de quem pensa que sua intervenção claramente a favor do candidato reacionário-conservador - apoiado pelos setores mais retrógrados e obscurantistas da igreja católica e ainda pela ordem crípto-fascistaOpus-Dei e pela TFP - , tenha sido pautada pelas "formulações intelectuais" digamos, modestas, do bispo de Guarulhos, Luis Gonzaga Bergonzini.

Não é novidade a intromissão da igreja católica na vida política dos países onde possui influência. Vem de uma tradição milenar sua associação com o poder e, muitas vezes, não somente como associados participaram diretamente dos destinos políticos de centenas de nações, o que explica as inúmeras guerras e conflitos religiosos desde o período medieval até nossos dias. Dos mortos e torturados cruelmente pela Santa Inquisição, passando por milhares de camponeses, pequeno-burgueses (huguenotes) assassinados durante os conflitos entre católicos e protestantes, até os apoios às ditaduras burguesas e bonapartistas, como as de Mussolini, Franco, Hitler, Salazar, Vargas, Perón, a ditadura militar-bonapartista brasileira e tantas outras!

Em rápidas pinceladas, a história recente da igreja católica. Iniciamos pelo cardeal Eugenio Pacelli, conhecido como il tedesco (o alemão), mais tarde Papa Pio XII. Ninguém nos altos postos do Vaticano era mais germanófilo. É sabido que Pacelli/ Pio XII apoiou, direta ou indiretamente, todos as ditaduras fascistas européias, começando pela de Mussolini, quando abençoou suas tropas que partiam para invadir a Etiópia, antiga Abissínia. Pacelli/Pio XII, quando Núncio Apostólico em Berlin, circulava livremente pela chancelaria e em muito auxiliou a conciliação entre os nazi e as facções burguesas alemãs. Também é conhecido o silêncio conivente de Pacelli/Pio XII em relação ao assassinato de milhões de judeus, ciganos, comunistas e homossexuais nos campos de extermínios nazistas. Pacelli ficou do lado dos monarquistas na Guerra Civil espanhola, não somente pelo anticomunismo visceral da igreja católica, mas pela íntima relação (quase promíscua) do vaticano com a monarquia espanhola, tanto que ao ser nomeado Papa, já ao final da Guerra Civil Espanhola, Pacelli/Pio XII saúda o fim do conflito, com a vitória dos monarquistas, Com imenso gozo, em discurso radiofônico proferido em 18 de abril de 1939. Uma tradicional relação que ainda continua. Lembremos que, entre 2001 e 2007, 731 pretensas "vítimas" dos republicanos espanhóis durante a Guerra Civil, foram beatificadas pelos papados de João Paulo II e de Bento XVI, em que pesem os protestos dos parentes das milhares de vítimas do outro lado, dos republicanos, e do clero basco que teve muitos de seus sacerdotes fuzilados pelos franquistas. Na ocasião da beatificação das 498 pretensas "vítimas" dos republicanos, Bento XVI destacou " a importância do martírio como testemunho de fé numa sociedade secularizada." (Los Angeles Times de 28/10/2007,Vatican Beatifies 498 Spanish Martyrs)

Sem esquecermos de João Paulo II, o militante anticomunista, que imiscuiu-se fundamente na vida da Polônia, apoiando o sindicalista católico-conservador (e quando no poder, acusado e condenado por corrupção) Lech Walessa, não como cidadão polonês, mas como "cidadão do céu" (como diria São Pedro, Bíblia Sagrada,Filipenses, III-20), como Papa e líder religioso. O cardeal Woitila/João Paulo II não limitou-se a combater o marxismo na Europa. Também aumentou a ofensiva contra o clero progressista na América Latina , tendo como fiel escudeiro e mentor intelectual, o cardeal Ratzinger/Bento XVI, na época, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, leia-se Tribunal da Santa Inquisição/ Santo Ofício, o mesmo que torturou e executou barbaramente (seja na fogueira, em azeite fervente ou esquartejando vivos) milhares de "infiéis". Ratzinger/Bento XVI, quando dirigia o Tribunal da Santa Inquisição/Santo Ofício/Congregação para Defesa da Fé, censurou diversas obras ligadas à Teologia da Libertação, como as do teólogo espanhol Jon Sobrino e a do então frade Leonardo Boff, condenando-o ao "silêncio obsequioso", termo clerical para designar mordaça à subjetividade social e política.

O cardeal Ratzinger/ Bento XVI, tem uma longa ficha de serviços ao obscurantismo. Para além de sua controversa participação na Juventude Hitlerista (da Baviera), que de um modo ou de outro era uma forma de cooptação forçada de jovens para o nacional-socialismo, e de ter participado do exército alemão durante a II Guerra Mundial, algo nada estranho em se tratando de um país em guerra, Ratzinger destaca-se de fato como sacerdote, ideólogo e teólogo conservador, reacionário e obscurantista. Chegando ao papado, aproximou-se da vertente mais atrasada do clero europeu, trazendo de volta o conhecido para as hostes do Vaticano o fundamentalista católico francês, cardeal Lefebvre, removendo a censura de excomunhão latae sententiae a quatro bispos ordenados pelo fundamentalista françês, em total desacordo com o Concílio Vaticano II. Dentre os bispos lefebvriano, está o sacerdote inglês que vive na Argentina, Richard Williamson que nega o Holocausto. Ratzinger/Bento XVI prosseguiu a política de Woitila/João Paulo II no desmantelamento dos núcleos progressistas e de esquerda da igreja católica na América Latina e em todo o mundo e para tal nomeou vários cardeais conservadores, inclusive no Brasil.

A pergunta que fazemos é como uma pessoa com uma história inequivocamente ligada ao núcleo mais reacionário e autocrático da igreja católica, que perseguiu e censurou sacerdotes e leigos em sua instituição religiosa, se arvora em discutir condutas democráticas nas eleições brasileiras? Além da cara de pau do cardeal Ratzinger/Papa Bento XVI, quero ressaltar que o Brasil é um país laico, onde vige institucionalmente a separação entre religião e Estado. Mais grave ainda, é que esse senhor é chefe de um Estado e, pelas leis internacionais, não deve interferir em assuntos de outros Estados. Imaginem a tempestade e o alvoroço que seria em nossa imprensa golpista se um dirigente estrangeiro, como Chaves, por exemplo, fizesse declarações sobre nosso processo eleitoral? E mais, Ratzinger/Bento XVI dirige um Estado teocrático-autocrático, uma plutocracia dirigida por cardeais, onde o voto não é democrático porque restrito à oligarquia cardinalícia. Com que autoridade democrática esse senhor pretende imiscuir-se na vida política nacional?

Que o cardeal Ratzinger/Bento XVI governe sua teocracia corrupta e interfira em seus problemas político-religiosos é aceitável. Mais do que isso, convenhamos, é cinismo cara de pau inconcebível.

*Professor da UNESP - Campus Marília, e membro do Comitê Central do PCB.
Fonte: http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2103:o-fundamentalista-bento-xvi-perdeu-a-nocao-de-vez&catid=73:eleicoes-2010

domingo, 24 de outubro de 2010

IGREJAS E O "VÍRUS OPORTUNISTA"



Frei Betto responsabiliza Igreja por ter introduzido "vírus oportunista" na campanha

Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 66, afirma que a forma como são abordados religião e aborto nesta campanha está "plantando no Brasil as sementes de um possível fundamentalismo religioso".

O frade dominicano responsabiliza a própria Igreja Católica por introduzir um "vírus oportunista" na disputa eleitoral.

E define como "oportunistas desesperados" os bispos da Regional Sul 1 da CNBB (São Paulo) que assinaram no fim de agosto uma nota, depois tornada panfleto, recomendando aos fieis não votar em candidatos do PT.

Em entrevista à Folha, o religioso analisa que os temas ganharam espaço na agenda porque "lidam com o emocional do brasileiro". "Na América Latina, a porta da razão é o coração, e a chave do coração é a religião. A religião tem um peso muito grande na concepção de mundo, de vida, de pessoa, que a população elabora."

Amigo do presidente Lula, de quem foi assessor entre 2003 e 2004 e a quem depois manteve apoio crítico, e eleitor de Dilma Rousseff, Frei Betto defende que as políticas sociais do atual governo evitaram milhões de mortes de crianças e, por isso, discuti-las é mais importante do que debater o aborto.

Folha - Desde que deixou o cargo de assessor de Lula, o sr. manteve um apoio crítico ao governo, um certo distanciamento. A pauta religiosa --ou a forma como ela foi introduzida na campanha-- lhe reaproximou do governo e do PT?
Frei Betto - Eu nunca me distanciei. Sempre apoiei o governo, embora fazendo críticas. O governo Lula é o melhor da nossa história republicana, mas não tão ideal quanto eu gostaria, porque não promoveu, por exemplo, nenhuma reforma na estrutura social brasileira, principalmente a reforma agrária.

Mas nunca deixei de dar o meu apoio, embora tenha escrito dois livros de análise do governo, mostrando os lados positivos e as críticas que tenho, que foram "A mosca azul" e "O calendário do poder", ambos publicados pela Rocco. Desde o início do processo eleitoral, embora seja amigo e admire muito a Marina Silva, no início até pensei que Dilma venceria com facilidade e que poderia apoiá-la [Marina], mas depois decidi apoiar a candidata do PT.

Mas você entrou com mais força na campanha por conta da pauta religiosa, sem a qual talvez não tivesse entrado tanto?
Eu teria entrado de qualquer maneira dando meu apoio, dentro das minhas limitações. Agora essa pauta me constrange duplamente, como cidadão e como religioso. Porque numa campanha eleitoral, penso que o mais importante é discutir o projeto Brasil. Mas como entrou o que considero um vírus oportunista, o tema do aborto e o tema religioso, lamentavelmente as as duas campanhas tiveram, sobretudo agora no segundo turno, que ser desviadas para essas questões, que são bastante pontuais. Não são questões que dizem respeito ao projeto Brasil de futuro. Ou, em outras palavras: mais do que se posicionar agora na questão do aborto é se posicionar em relação às políticas sociais que evitam a morte de milhões de crianças. Nenhuma mulher, nenhuma, mesmo aquela que aprova a total liberalização do direito ao aborto, é feliz por fazer um aborto.

Agora o que uma parcela conservadora da Igreja se esquece é que políticas sociais evitam milhões de abortos. Porque as mulheres, quando fazem, é por insegurança, frente a um futuro incerto, de miséria, de seus filhos. Esses 7,5 anos do governo Lula certamente permitiram que milhares de mulheres que teriam pensado em aborto assumissem a gravidez. Tiveram seus filhos porque se sentem amparadas por uma certa distribuição de renda que efetivamente ocorreu no governo Lula, tirando milhões de pessoas da miséria.

Por que aborto, crença e religião entraram tão fortemente na pauta da campanha?
Porque eles lidam com o emocional do brasileiro. Como o latino-americano em geral, a primeira visão de mundo que o brasileiro tem é de conotação religiosa. Sempre digo que, na América Latina, a porta da razão é o coração, e a chave do coração é a religião. A religião tem um peso muito grande na concepção de mundo, de vida, de pessoa, que a população elabora.
Mas não foi a população que levou esse tema [à campanha], foram alguns oportunistas que, desesperados e querendo desvirtuar a campanha eleitoral, introduziram esses temas como se eles fossem fundamentais.

O próprio aborto é decorrência, na maior parte, das próprias condições sociais de uma parcela considerável da população.

Quem são esses oportunistas?
Primeiro os três bispos que assinaram aquela nota contra a Dilma, diga-se de passagem à revelia da CNBB. Realmente eles se puseram no palanque, sinalizando diretamente uma candidata com acusações que considero infundadas, injustificadas e falsas.

A Dilma, que já defendeu a descriminalização do aborto, recuou em relação ao tema.
Respeito a posição dela. Agora eu, pessoalmente, como frade, como religioso, como católico, sou a favor da descriminalização em determinados casos. Pode colocar aí com todas as letras. Porque conheço experiências em outros países, como a França, em que a descriminalização evitou milhões de abortos. Mulheres foram convencidas a ter o filho dentro de gravidez indesejada. Então todas as estatísticas comprovam que a descriminalização favorece mais a vida do que a descriminalização. É importante que se diga isso, na minha boca.
Na Itália, que é o país do Vaticano, predominantemente católico, foi aprovada a descriminalização.

O sr. acha que o recuo da Dilma é preço eleitoral a pagar?
Respeito a posição dos candidatos, tanto da Dilma quanto do Serra, sobre essas questões. Não vou me arvorar em juiz de ninguém. Como disse, acho que esse é um tema secundário no processo eleitoral e no projeto Brasil.

Pelo que se supõe, já que não há muita clareza nos candidatos, nem Dilma nem Serra são favoráveis ao aborto em si, mas ambos parecem abertos a discutir sua descriminalização. Por que é tão difícil para ambos debater esse tema com clareza e honestidade?
Porque é um tema que os surpreende. Não é um tema fundamental numa campanha presidencial. É um vírus oportunista, numa campanha em que você tem que discutir a infraestutura do país, os programas sociais, a questão energética, a preservação ambiental. Entendo que eles se sintam constrangidos a ter que se calar diante dos temas importantes para a nação brasileira e entrar num viés que infelizmente está plantando no Brasil as sementes de um possível fundamentalismo religioso.

Como o sr. vê a participação direta de bispos, padres e pastores na campanha, pregando contra ou a favor de um ou outro candidato?
Eu defendo o direito de que qualquer cidadão brasileiro, seja bispo, seja até o papa, tenha a sua posição e a manifeste. O que considero um abuso é, em nome de uma instituição como a Igreja, como a CNBB, alguém se posicionar tentando direcionar o eleitorado. Eu, por exemplo, posso, como Frei Betto, manifestar a minha preferência eleitoral. Mas não posso, como a Ordem Dominicana à qual eu pertenço, dizer uma palavra sobre isso. Considero um abuso.

E a participação de uma diocese da CNBB na produção de panfletos recomendando fieis a não votarem na Dilma?
É uma posição ultramontana, abusiva, de tentar controlar a consciência dos fieis através de mentiras, de ilações injustificadas.

O sr. acredita, como aponta o PT, que o PSDB está por trás da produção dos panfletos?
Não, não posso me posicionar. Só me posiciono naquilo em que tenho provas e evidências. Prefiro não falar sobre isso.

Quais as diferenças de tratamento do tema aborto nas diferentes religiões?
Ih, meu caro, isso é muito complexo. Agora, na rua... Eu estou na rua, indo para a PUC [para ato de apoio a Dilma, na última terça à noite]. Para entrar nesse detalhe... Eu escrevi um artigo até para a Folha, anos atrás, sobre a questão do aborto. É muito delicado analisar as diferenças. Há nuances. Mesmo dentro da Igreja Católica há diferentes posições sobre quando é que o feto realmente se transforma num ser vivo. Não é uma questão fechada na Igreja. Ainda não há, nem do ponto de vista do papa, uma questão dizendo: o feto é um ser vivo a partir de tal data. É uma questão em discussão, teologicamente inclusive. São Tomás de Aquino dizia que 40 dias depois de engravidar. Isso aí depende muito, é uma questão em aberto.

Em artigo recente na Folha, o sr. disse que conhecia Dilma e que ela é "pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica". O que diria sobre a formação e a religiosidade de Serra?
Eu sou amigo do Serra, de muitos anos, desde a época do movimento estudantil. Nunca soube das suas opções religiosas. Da Dilma sim, porque fui vizinho dela na infância [em Belo Horizonte], estivemos juntos no mesmo cárcere aqui em São Paulo, onde ela participou de celebrações, e também no governo. Não posso de maneira alguma me posicionar em relação ao Serra. Respeito a religiosidade dele.

Se você me perguntasse antes da campanha sobre a posição religiosa do Serra, eu diria: não sei. Mas considero uma pessoa muito sensata, que respeita crenças religiosas, a tolerância religiosa, a liberdade religiosa. Nesse ponto os dois candidatos coincidem.

O que achou do material de campanha de Serra que destaca a frase "Jesus é a verdade e a vida" junto a uma foto do candidato?
Não cheguei a ver e duvido que seja material de campanha dele. Como bom mineiro, fico com pé atrás. Será que é material de campanha, será que é apócrifo?... Agora mesmo estão distribuindo na internet um texto, que me enviou hoje o senador [Eduardo] Suplicy, [intitulado] "13 razões para não votar em Dilma", com a logomarca da Folha, de um artigo que eu teria publicado na Folha, assinado por mim. Não dá para dizer que [o santinho] é da campanha dele.

Mas tem foto dele, o número dele [tem inclusive o CNPJ da coligação]...
Bem, espero que a campanha, o comitê dele desminta isso e, se não desmentir, quem cala, consente.

No mesmo artigo o sr. diz que torturadores praticavam "ateísmo militante". O sr. não respeita quem não crê em Deus?
Meu caro, eu tenho inúmeros amigos ateus. Nenhum deles tirou do contexto essa frase. Com essa pergunta você me permite aclarar uma coisa muito importante: que a pessoa professe ateísmo, tem todo o meu apoio, é um direito dentro de um mundo secularizado, de plena liberdade religiosa.

Agora, a minha concepção de Deus é que Deus se manifesta no ser humano. Então toda vez que alguém viola o ser humano, violenta, oprime, está realizando o ateísmo militante. Ateus que reivindicam o fim dos crucifixos em lugares públicos, o nome de Deus na Constituição --isso não é ateísmo militante, isso é laicismo, que eu apoio. O ateísmo militante para mim é profanar o templo vivo de Deus, que é o ser humano.

Tiraram do contexto, não entenderam...

É que houve queixas de ateus em relação àquele trecho do seu artigo, tido como discriminatório...
Podem ter se sentido ofendidos por não terem percebido isso. Para mim o ateísmo militante é você negar Deus lá onde, na concepção cristã, ele se manifesta, que é no ser humano. Você professar o ateísmo é um direito que eu defendo ardorosamente. Agora, você não pode é chutar a santa, como fez aquele pastor na Record. Ou seja, eu posso ser ateu, como eu sou cristão, mas eu não digo que a fé do muçulmano é um embuste ou que a fé do espírita é uma fantasia. Isso é um desrespeito.

O sr. relatou no artigo que encontrou Dilma no presídio Tiradentes [em São Paulo] e que lá fizeram orações. Como foram esses encontros?
Ela estava presa na ala feminina, eu na ala masculina e, como religioso, eu tinha direito de, aos domingos, passar para a ala feminina para fazer celebrações. E ela participava. O diretor do presídio autorizava isso.

O sr. já comparou o Bolsa Família a uma "esmola permanente"...
[interrompendo] Não, eu não usei essa expressão. Eu sempre falei que o Bolsa Família é um programa assistencialista e o Fome Zero era um programa emancipatório. Nunca chamei de esmola não. Se saiu isso aí, puseram na minha boca.

Deixa eu buscar aqui o contexto exato...
Quero ver o contexto. Dito assim como você falou agora eu não falei isso não.

Vou achar aqui o texto, espera aí.
Bem, mas não importa o que eu disse. Eu te digo agora o seguinte: o Bolsa Família é um programa compensatório e o Fome Zero era um programa emancipatório.

* Você falou o seguinte [numa entrevista à Folha em 2007]: "Até hoje o Bolsa Família não tem porta de saída. O governo inteiro sabe qual é, mas não tem coragem: é a reforma agrária, a única maneira de 11 milhões de famílias passarem a produzir a própria renda e ficarem independentes, emancipadas do poder público. Você não pode fazer política social para manter as pessoas sob uma esmola permanente. Nem por isso considero o Bolsa Família negativo, devo dizer isso. O problema é que não pode se perenizar".*
Ótimo que você pegou o texto, muito bem, é isso mesmo. Veja bem, não vamos tirar de contexto não.

O que o sr. pensa do Bolsa Família hoje?
Isso que eu te falei: é um programa compensatório. Eu gostaria que voltasse o Fome Zero, que tem um caráter emancipatório, tinha porta de saída para as famílias. E o Bolsa Família, embora seja positivo, até hoje não encontrou a porta de saída, o que eu lamento.

O sr. continua a ser um defensor inconteste do regime cubano? Ainda é amigo de Fidel?
Não, veja bem. A sua afirmação... Não põe na minha boca o que você acabou de falar. Eu sou solidário à Revolução Cubana. Eu faço um trabalho em Cuba há muitos anos, de reaproximação da Igreja e do Estado. Estou muito agradecido a Deus e feliz por poder ajudar esse processo, que resultou recentemente na liberação de vários presos políticos.

O sr. participou diretamente desse processo, dessa última libertação?
Indiretamente sim. Mas não é ainda o momento de eu entrar em detalhes.

O sr. acha que essa tendência de abertura do regime é inexorável?
Sim, claro, tem que haver mudanças. Cuba está preocupada em se adaptar. Mas nada disso indica a volta ao capitalismo.

Sobre o desrespeito aos direitos humanos em Cuba, ainda há presos políticos...
Meu caro, ninguém desrespeita mais os direitos humanos no mundo do que os Estados Unidos. E fala-se pouco, lamentavelmente. Basta ver o que os Estados Unidos fazem em Guantánamo.

Cuba ocupa o 51º no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, que é insuspeito. O Brasil, o 75º.

(fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/819034-frei-betto-responsabiliza-igreja-por-ter-introduzido-virus-oportunista-na-campanha.shtml )

terça-feira, 12 de outubro de 2010

NO DIA DA "MADROEIRA DO BRASIL", O RIDÍCULO... no words!!!



DETALHE IMPORTANTE: notem a mulher do Serra, Monica Serra, que afirmou que Dilma "matava criancinhas" em passeata no RJ, segurando a santa ... quem aguenta "santos" assim?!?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

UM MUNDO CONTRADITÓRIO



Mundo protesta contra pena de morte no Irã, mas não se opõe à injeção letal nos EUA

Umberto Eco


No mês passado na Virgínia (EUA), Lewis foi executada por injeção letal; ninguém será punido por seu assassinato, porque ela foi legalmente condenada à morte. Ela planejou os assassinatos de seu marido e de seu filho adotivo – mortes que foram, é claro, ilegais – enquanto aqueles que a mataram, em resposta, fizeram isso com a bênção das autoridades.

Talvez tenhamos que reformular o sexto mandamento para algo como “não matarás sem permissão”. Afinal, há séculos reverenciamos as bandeiras carregadas por soldados que, quando estão em guerra, têm licença para matar, como James Bond. E agora o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad respondeu aos apelos de clemência do Ocidente em prol de uma mulher supostamente adúltera que foi condenada à morte por apedrejamento – a pena foi deixada de lado, mas as autoridades sustentam que ela ainda é uma possibilidade – dizendo, resumidamente: vocês reclamam que queremos matar legalmente uma mulher iraniana, enquanto matam legalmente uma mulher norte-americana?

Uma objeção à lógica de Ahmadinejad é a de que a mulher norte-americana planejou o assassinato de seu marido, enquanto a mulher iraniana, Sakineh Mohammadi Ashtiani, foi simplesmente infiel a seu marido. E a norte-americana foi morta sem dor, enquanto a iraniana corre o risco de ser assassinada de uma forma brutalmente dolorosa. Mas uma resposta desse tipo implica duas coisas: enquanto uma mulher infiel não deveria receber uma punição maior do que a separação legal sem pensão alimentícia, é aceitável punir uma assassina com a morte – desde que o método de execução não seja muito doloroso.

Se a nossa razão não estivesse tão cega, talvez pudéssemos ver o argumento maior: que até mesmo os assassinos não devem ser condenados à morte, que as sociedades não devem matar seus cidadãos – nem mesmo por meio de um processo legal, e nem mesmo se a execução for relativamente indolor.

Como os cidadãos de países democráticos deveriam responder ao líder de um país pouco democrático quando ele pede para que não critiquemos a pena de morte iraniana – enquanto algumas nações ocidentais ainda mantêm a cruel pena de morte em seus territórios?

A situação é embaraçosa, e eu gostaria de saber se esses ocidentais – entre os quais está a primeira-dama francesa, Carla Bruni-Sarkozy – que estão protestando contra a pena de morte iraniana também protestaram contra a dos Estados Unidos. Suspeito que muitos deles não o fizeram. Os ocidentais se dessensibilizaram diante do alto número de execuções legais nos Estados Unidos. E entretanto estamos horrorizados com a ideia de uma mulher ser brutalmente assassinada com uma chuva de pedras no Irã. Eu certamente não sou imune a isso: quando foi feito um abaixo assinado para protestar contra o apedrejamento de Ashtiani, eu o assinei imediatamente. Ao mesmo tempo, ignorei o fato de que Teresa Lewis da Virgínia estava prestes a ser assassinada.

Será que nós, ocidentais, teríamos protestado tanto se Ashtiani tivesse sido condenada à morte por injeção letal? Estamos indignados com o apedrejamento ou com a execução de pessoas que violam o sétimo mandamento - “não cometerás adultério” - em vez do sexto? Não sei, mas o fato é que as reações humanas costumam ser instintivas e irracionais.

Em agosto passado deparei-me com um site que descrevia várias formas de cozinhar um gato. Quer se tratasse de uma brincadeira ou de algo para ser levado a sério, defensores dos direitos dos animais do mundo todo se posicionaram contra o site. Eu adoro gatos. Eles são uma das poucas criaturas que não se permitem explorar por seus donos – ao contrário, eles exploram seus donos com um cinismo olímpico – e seu afeto pela casa indica uma forma de patriotismo. Então eu ficaria revoltado se me apresentassem um prato de ensopado de gato. Por outro lado, acho os coelhos tão fofos quanto os gatos, e não tenho nenhum problema em comê-los. Fico escandalizado ao ver cachorros andando livres nas casas chinesas, brincando com as crianças, quando todos sabem que os animais serão comidos no final do ano. Mas os porcos – animais altamente inteligentes, segundo me dizem – passeiam pelas fazendas ocidentais, e pouquíssimas pessoas se preocupam com o fato de que o seu destino é virar presunto. O que nos faz considerar alguns animais incomíveis quando os antropomorfizamos, ao passo que achamos outros criaturas adoráveis – bezerros, por exemplo, ou ovelhinhas – extremamente palatáveis?

Nós, seres humanos, somos animais muito estranhos, capazes de um grande amor e de um cinismo assustador, igualmente preparados para proteger um peixinho dourado quanto para ferver uma lagosta viva, para esmagar uma lagarta sem remorso e considerar bárbaro matar uma borboleta. Da mesma forma, aplicamos regras diferentes quando confrontados com duas sentenças de morte – escandalizados por uma, enquanto fechamos os olhos para a outra. Às vezes sou tentado a concordar com o escritor de origem romena Emil Mihai Cioran, que dizia que a criação, depois que escapou das mãos de Deus, deve ter sido entregue para um demiurgo: desmazelado e atrapalhado, talvez até um pouco beberrão, que ia trabalhar com algumas ideias muito confusas na cabeça.

fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/herald/2010/10/11/mundo-protesta-contra-pena-de-morte-no-ira-mas-nao-se-opoe-a-injecao-letal-nos-eua.jhtm

domingo, 10 de outubro de 2010

BRASIL PERDIDO: ESTADO LAICO EM PERIGO



Bancada evangélica quer barrar o plano de direitos humanos

Com um número maior de políticos eleitos, a bancada evangélica no Congresso já definiu as prioridades: trabalhar contra a aprovação de propostas como a descriminalização do aborto e contra o PNDH-3 (Plano Nacional dos Direitos Humanos).
O grupo --que cresceu dos atuais 56 para 68 congressistas eleitos, segundo a frente evangélica-- tem como uma das metas trabalhar pela extinção do programa enviado ao Legislativo pelo governo.
"O fundamental é a revogação do PNDH-3", diz Anthony Garotinho (PR-RJ), eleito deputado federal com cerca de 700 mil votos.
Após forte reação, o governo tirou do programa pontos como a revisão da lei que pune quem se submete ao aborto. Outro ponto polêmico é a retirada dos símbolos religiosos de prédios públicos.
A bancada não considera as mudanças suficientes. Garotinho vincula seu engajamento na campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT) à retirada de temas como a garantia de direitos trabalhistas às prostitutas e a adoção por casais gays.
Presidente da frente evangélica, o deputado João Campos (PSDB-GO) também defende a revisão: "O governo tirou a diretriz que recomenda a descriminalização do aborto e colocou no lugar que considera o aborto uma questão de saúde pública".
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) saiu em defesa de Dilma Rousseff (PT), que, se for eleita, não vai encaminhar ao Congresso "propostas contra a vida".
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/812271-bancada-evangelica-quer-barrar-o-plano-de-direitos-humanos.shtml

A TEOCRATIZAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO




ELIO GASPARI

O debate do aborto, Miriam Cordeiro 2.0


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A infantaria do tucanato emburrece o debate, rebaixa a campanha e ofende a biografia dos beneficiários
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VINTE E UM ANOS depois da noite em que Mirian Cordeiro, a ex-namorada de Lula, surpreendeu o país acusando-o de ter sugerido que abortasse a criança que viria a ser sua filha Lurian, a palavra maldita voltou à agenda da sucessão presidencial. Em 1989 a questão do aborto foi fertilizada pelo comando da campanha de Fernando Collor. Desta vez, reapareceu com o mesmo formato oportunista, trazida pela infantaria do tucanato. Nos dois casos, ninguém mostrou-se interessado em discutir o assunto ao longo dos meses anteriores à eleição. O propósito, puramente eleitoral, sairá da agenda depois do dia 27. Até lá, terá emburrecido o debate, rebaixado a campanha e tisnado a biografia dos beneficiários da baixaria.
Há 19 anos tramita na Câmara um projeto que dá à mulher o direito de interromper voluntariamente uma gravidez. Em 2008, por unanimidade, ele foi rejeitado na Comissão de Seguridade Social e Família. Pelo andar da carruagem, se não morrer antes, levará anos para chegar ao plenário. Se e quando isso acontecer, caberá ao Congresso decidir.
Flertando com a transformação do aborto numa "bala de prata" eleitoral, o tucano José Serra expôs sua posição: "Nunca disse que sou contra o aborto porque eu sou a favor, ou melhor, nunca disse que sou a favor, porque sou contra". Em seguida, expôs a ferida petista: "O que está em questão nessa campanha não é ser contra ou a favor. É a mentira". O comissariado petista e Dilma Rousseff defenderam programática e pessoalmente a descriminalização do aborto.
Chegou-se a um conflito de oportunismos. O dos tucanos, que só lembraram do assunto na reta final da campanha, e o dos petistas que, na mesma reta, mudam de opinião.
Afora o oportunismo, o nível da discussão abortou a inteligência. Dilma Rousseff disse que "as mulheres ricas têm acesso a clínicas, mulheres pobres usam agulha de tricô". Propagou a lenda produzida pelo filme "Pixote", de 1981. Mesmo há 30 anos essa prática era desprezível. Hoje, nem pensar. A forma mais comum de aborto se dá com o uso da droga Cytotec. Em tese, sua comercialização é proibida. Na prática, custa em torno de R$ 400 e pode ser comprada pela internet. Estima-se que, de cada dez abortos, sete sejam feitos com Cytotec.
Em 1990, o professor Laurence Tribe, de Harvard, publicou um livro intitulado "Aborto - O Choque de Absolutos". (Entre os seus pesquisadores estava um estudante de direito chamado Barack Obama.) Tribe mostra que o aborto divide as sociedades e, sem uma certeza religiosa, não há como sair do debate seguro de que um lado está certo e o outro, errado. O aborto não é apenas uma questão de saúde pública, como a dengue. Trata-se de um conflito entre o direito do feto à vida e o direito da mulher à liberdade de interromper sua gravidez. (Sempre até o terceiro mês da gestação.)
Em 1973, a Corte Suprema dos Estados Unidos decidiu, por sete a dois, que as mulheres têm esse direito. No mesmo dia, julgaram dois casos. Uma das mulheres abortou. A outra perdeu o prazo e concebeu uma menina. Passaram-se 37 anos, a mãe mudou de ideia e tornou-se uma militante contra o aborto. A filha defende a decisão da Corte, que teria evitado seu nascimento.
No Brasil de hoje é improvável que o Supremo Tribunal Federal reconheça o direito das mulheres de interromper a gravidez. Também é improvável que o Congresso vote uma lei nesse sentido. A candidata Marina Silva, a única a expor uma posição que faz sentido, é contra o aborto, mas remeteria a questão a um plebiscito, no qual a proposta dificilmente seria aprovada.
Sobrou o lixo: a instrumentalização do tema para satanizar adversários políticos. Collor fez isso com rara maestria.
A baixaria circula na campanha presidencial de um país onde a rede pública de saúde do estado de São Paulo mantém, desde 1986, o Programa de Atenção Integral à Adolescente. Para júbilo internacional, entre 1998 e 2008 a internação de adolescentes por conta de abortos caiu de 10 mil por ano para 8.700. Mais: a gravidez de jovens de 10 a 20 anos caiu 38%, para 94 mil. Reduziu-se à metade os casos de segunda gravidez nessa faixa de idade.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1010201021.htm

ELEIÇÕES 2010: O BRASIL NA IDADE MÉDIA



Irmã Dilma e Beato Serra: quem vai rezar mais?
de RICARDO KOTSCHO

Ao final da primeira semana da campanha do segundo turno das eleições presidenciais, se alguém chegasse ao Brasil hoje, sem saber o que está em jogo, poderia imaginar que o país voltou à Idade Média e vive uma sangrenta guerra religiosa. De um lado, a irmã Dilma; de outro, o Beato Serra _ e a unir os dois, um festival de hipocrisia.

Esta inacreditável maluquice começou ainda no final da primeira rodada, quando a internet foi inundada por mensagens apócrifas acusando a candidata Dilma Rousseff de defender o aborto.

Nunca se vai saber até que ponto isto foi decisivo para levar as eleições ao segundo turno, mas o fato é que a velha mídia e os estrategistas do candidato José Serra gostaram da idéia e transformaram a questão do aborto no tema central da campanha. Deus, o próprio, virou o principal cabo eleitoral. Quem promete rezar mais ave-marias?

Acuada pelos repórteres que lhe perguntavam sobre aborto toda vez que aparecia diante das câmeras em algum lugar público, a Irmã Dilma entrou no jogo e passou a falar das suas profundas convicções religiosas, como se agora fosse candidata a madre superiora. Só falta aparecer com um véu na cabeça. Satisfeito com os resultados, pleno de santidade, o Beato Serra, por sua vez, passou a fazer campanha, não apenas para ser eleito, mas canonizado.

Os programas de TV dos dois candidatos aderiram logo à onda. A guerra religiosa não deixou mais lugar para o debate de projetos para o país nos próximos quatro anos. A política cedeu espaço à religião. Templos e igrejas tomaram o lugar dos palanques; as bençãos de bispos e pastores passaram a ser mais cobiçadas do que o apoio de líderes populares; sermões substituiram os discursos e os eleitores passaram a ser tratados como um rebanho de fiéis.

É como se o país estivesse enfrentando uma epidemia de abortos, doença contagiosa que, de uma hora para outra, passou a ameaçar todas as mulheres grávidas. Saíram de cena todos os escândalos, não se fala mais em pedofilia na Igreja Católica, nem no destino dado aos milionários dízimos evangélicos que não pagam impostos.

O aborto se transformou na grande questão nacional. De onde surgiu esta sandice? Aonde se quer chegar com esta insanidade?

Confesso a vocês que não sei explicar o que está acontecendo, gostaria apenas de entender. Estou ficando meio assustado com tudo isso. O Brasil merecia uma campanha presidencial mais decente, menos indigente.

fonte: http://colunistas.ig.com.br/ricardokotscho/2010/10/09/irma-dilma-e-beato-serra-quem-reza-mais/

sábado, 9 de outubro de 2010

SERRA, O OBSCURANTISTA RELIGIOSO!



Na propaganda eleitoral, o presidenciável José Serra é apresentado como “o melhor ministro da Saúde” que o Brasil já teve.
Entre os feitos de Serra, são realçados: o programa de combate à Aids e a conversão dos remédios genéricos em realiadade.
A campanha tucana esquiva-se de mencionar, porém, uma outra realização do ministro Serra.
Em 1998, sob Fernando Henrique Cardoso, Serra assinou portaria disciplinando o socorro, no SUS, a mulheres vítimas de agressões sexuais.
No item de número seis, a portaria trata do “atendimento à mulher com gravidez decorrente de estupro”. Anota o texto:
“Esse atendimento deverá ser dado a mulheres que foram estupradas, engravidaram e solicitam a interrupção da gravidez aos serviços públicos de saúde”.
Ou seja, como ministro da Saúde, Serra ditou as normas para a realização de abortos nos hospitais do SUS. A providência foi necessária.
O Código Penal brasileiro autoriza o aborto em dois casos: quando a gravidez decorre de estupro ou quando há risco de morte da gestante.
Na prática, porém, as mulheres tinham dificuldade para fazer valer o seu direito.
Apenas oito cidades dispunham de serviço hospitalar público voltado à interrupção da gravidez nos casos previstos em lei. Daí a necessidade da portaria.
Serra deveria orgulhar-se do ato que editou. Mas a conveniência eleitoral o inibe de propagandeá-lo.
Na pele de candidato, Serra prefere apresentar-se como alguém "que sempre condenou o aborto e defendeu a vida".
"Eu quero ser um presidente com postura, equilíbrio e que defenda os valores da família brasileira”, disse, no reinício da propaganda de TV, nesta sexta (8).
Decidido a fustigar a rival Dilma Rousseff, associada à defesa da legalização do aborto, Serra vincula-se mais ao obscurantismo religioso do que ao passado de ministro.
Em 1998, a portaria de Serra gerou uma enorme grita de católicos e evangélicos. O Serra de então deu de ombros.
Severino 'Mensalinho' Cavalcanti (PP-PE), à época deputado federal, tentou barrar a portaria de Serra na Câmara.
Enfrentou a resistência da bancada feminina, liderada pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), hoje fervorosa aliada de Dilma.
Em essência, o tema do aborto mais aproxima do que separa Serra e Dilma. Ambos consideram –ou consideravam— que a encrenca é caso de saúde pública.
Mais: a dupla acha –ou achava— que não cabe à Igreja ditar o comportamento do Estado nessa matéria.
Rendido à (i)lógica eleitoral, Serra como que sucumbe ao atraso beato. Chega a equivar-se de enaltecer uma iniciativa da qual deveria se orgulhar.

fonte: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2010-10-01_2010-10-31.html

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O MOMENTO POLÍTICO E A RELIGIÃO



Nota da Comissão Brasileira Justiça e Paz
O MOMENTO POLÍTICO E A RELIGIÃO
“Amor e Verdade se encontrarão. Justiça e Paz se abraçarão” (Salmo 85)
A Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP) está preocupada com o momento político na sua relação com a religião. Muitos grupos, em nome da fé cristã, têm criado dificuldades para o voto livre e consciente. Desconsideram a manifestação da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil de 16 de setembro, “Na proximidade das eleições”, quando reiterou a posição da 48ª Assembléia Geral da entidade, realizada neste ano em Brasília. Esses grupos continuaram, inclusive, usando o nome da CNBB, induzindo erroneamente os fiéis a acreditarem que ela tivesse imposto veto a candidatos nestas eleições.
Continua sendo instrumentalizada eleitoralmente a nota da presidência do Regional Sul 1 da CNBB, fato que consideramos lamentável, porque tem levado muitos católicos a se afastarem de nossas comunidades e paróquias.
Constrangem nossa conciência cidadã, como cristãos, atos, gestos e discursos que ferem a maturidade da democracia, desrespeitam o direito de livre decisão, confundindo os cristãos e comprometendo a comunhão eclesial.
Os eleitores têm o direito de optar pela candidatura à Presidência da República que sua consciência lhe indicar, como livre escolha, tendo como referencial valores éticos e os princípios da Doutrina Social da Igreja, como promoção e defesa da dignidade da pessoa humana, com a inclusão social de todos os cidadãos e cidadãs, principalmente dos empobrecidos.
Nesse sentido, a CBJP, em parceria com outras entidades, realizou debate, transmitido por emissoras de inspiração cristã, entre as candidaturas à Presidência da Republica no intento de refletir os desafios postos ao Brasil na perspectiva de favorecer o voto consciente e livre. Igualmente, co-patrocinou um subsídio para formação da cidadania, sob o título: “Eleições 2010: chão e horizonte”.
A Comissão Brasileira Justiça e Paz, nesse tempo de inquietudes, reafirma os valores e princípios que norteiam seus passos e a herança de pessoas como Dom Helder Câmara, Dom Luciano Mendes, Margarida Alves, Madre Cristina, Tristão de Athayde, Ir. Dorothy, entre tantos outros. Estes, motivados pela fé, defenderam a liberdade, quando vigorava o arbítrio; a defesa e o anúncio da liberdade de expressão, em tempos de censura; a anistia, ampla, geral e irrestrita, quando havia exílios; a defesa da dignidade da pessoa humana, quando se trucidavam e aviltavam pessoas.
Compartilhamos a alegria da luz, em meio a sombras, com os frutos da Lei da Ficha Limpa como aprimoraramento da democracia. Esta Lei de Iniciativa Popular uniu a sociedade e sintonizou toda a igreja com os reclamos de uma política a serviço do bem comum e o zelo pela justiça e paz.
Brasília, 06 de Outubro de 2010
Comissão Brasileira Justiça e Paz, Organismo da CNBB

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

UM GRANDE PENSAMENTO SOBRE OS PERIGOS DA RELIGIÂO NO ESTADO LAICO



FÉ NA ELEIÇÃO

Deu segundo turno. Isso anima os tucanos, mas não creio que a festa ranfastídea irá durar muito. Se tudo o que já li sobre ciência política e neurociência aplicada a eleições vale alguma coisa, o advento do segundo escrutínio significa apenas que Dilma Rousseff terá de esperar até o fim do mês para comemorar sua assunção à Presidência da República. Para sair derrotada, a candidatura petista precisaria perder eleitores que já conquistara, um fenômeno que até pode ocorrer, mas que é relativamente raro.

Dilma terminou com 47% dos votos válidos. Para atingir a marca dos 50% que a entroniza no Planalto, precisa apenas herdar 1,5 de cada dez simpatizantes de Marina Silva. Colocando de outra forma, Serra precisaria arregimentar algo como 90% dos eleitores do PV para reverter o quadro. Pelas pesquisas das vésperas do primeiro turno, ele de fato incorpora a maioria dos verdes, mas numa proporção inferior à necessária: 50%. Cerca de 30% tendem a migrar para o PT.

Não são, contudo, essas platitudes aritmético-eleitorais que me motivam a escrever a coluna de hoje. A crer no que dizem marqueteiros, pesquisistas e jornalistas, foi a polêmica em torno do aborto que custou a Dilma a vitória no primeiro turno. Insuflados por clérigos que denunciaram o passado pró-abortista da candidata, eleitores religiosos (principalmente evangélicos, mas também católicos) teriam trocado a petista por Marina, genuinamente evangélica e contrária ao aborto desde criancinha. Para não perder a piada, eu diria que votaram na pessoa certa pelas razões erradas. (Recado aos adivinhadores de sufrágio: não, não votei em Marina).

A tese do efeito aborto é verossímil. Infelizmente, é difícil comprová-la porque os dois principais institutos de pesquisa, o Datafolha e o Ibope, na reta final, para reduzir o tempo das entrevistas, deixaram de perguntar aos eleitores a sua fé. O Datafolha excomungou a questão religiosa no final de junho, e o Ibope, em 23 de setembro. Os dados deste último, contudo, chegaram a registrar um esvaziamento de Dilma entre os evangélicos no mês passado.

O fato de o comando petista ter reagido firmemente procurando lideranças religiosas nos últimos dias da campanha e esconjurando a descriminação do aborto de seu programa também é sugestivo de que as sondagens do partido captaram a tendência, deflagrando uma operação de redução de danos.

Se confirmado como um fenômeno de grandes dimensões, seria a primeira vez que a religião se torna uma variável relevante em eleições majoritárias no Brasil. É justamente aí que mora o problema.

Longe de mim sugerir que pastores e padres não têm o direito de convencer seus rebanhos a votar segundo a palavra de Deus, ainda que esta esteja aberta às mais diferentes interpretações, muitas vezes inconciliáveis entre si. A democracia só existe quando as pessoas são livres para dizer o que pensam, mesmo que sejam besteiras ou fantasias delirantes, e o eleitor vota prestando contas apenas à sua consciência. Mas ninguém jamais afirmou que a democracia era a autoestrada para o paraíso. Como celebremente observou o estadista britânico Winston Churchill: 'Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos'.

O perigo de utilizar uma lógica espiritual para pautar a política é que ela introduz absolutos morais em questões que precisam ser resolvidas de uma perspectiva essencialmente prática, normalmente com recurso a negociações. Em suma, tudo o que não precisamos é trazer para as leis e políticas públicas é a noção de pecado. É claro que existe um equivalente laico do conceito de pecado, que é o crime. A diferença é que, enquanto este último tem uma justificação exclusivamente racional em bases mais ou menos utilitárias e comporta gradações, o primeiro, por ter sido ditado por uma autoridade superior e supostamente incontestável, nos chega na forma de pacotes inegociáveis. De certo modo, pensar religiosamente é negar a política.

A condenação da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani à morte por apedrejamento é um exemplo eloquente do tipo de problema com que estamos lidando. Ao contrário do que muitos possam pensar, atirar pedras em pecadores não é uma crueldade exclusiva do islamismo.

'Se se encontrar um homem dormindo com uma mulher casada, todos os dois deverão morrer: o homem que dormiu com a mulher, e esta da mesma forma. Assim, tirarás o mal do meio de ti; Se uma virgem se tiver casado, e um homem, encontrando-a na cidade, dormir com ela, conduzireis um e outro à porta da cidade e os apedrejareis até que morram: a donzela, porque, estando na cidade, não gritou, e o homem por ter violado a mulher do próximo. Assim, tirarás o mal do meio de ti'. Essas passagens não foram tiradas do nobre Alcorão, mas da sagrada Bíblia judaico-cristã, mais especificamente do Deuteronômio 22:22-24.

Os muçulmanos não inventaram, portanto, o apedrejamento de adúlteros. Na verdade, o Alcorão determina para quem for apanhado cometendo esse delito uma pena bem mais leve, de apenas cem chicotadas. É o "Hadith" --a narrativa dos atos do profeta que, junto com o Alcorão, constitui a base da "sharia", a lei islâmica-- que autoriza, depois das chibatadas, a lapidação.

Detalhes legais à parte, a diferença entre o islã e o Ocidente hoje é que, enquanto este último assistiu ao longo dos últimos três ou quatro séculos a uma progressiva laicização das instituições e mesmo da vida, o primeiro permanece fiel a suas origens e textos religiosos.

Talvez seja excessivo afirmar que o Ocidente se tornou irreligioso, mas é certo que acabou ficando pouco zeloso nessa matéria. Foi essa oportuna avacalhação que fez com que as fogueiras inquisitoriais não voltassem a acender-se e permitiu que a ciência avançasse por terrenos que antes lhe eram vedados. Vale lembrar que, a depender da Igreja Católica, não teríamos nem ao menos desenvolvido a anatomia, a mais básica das disciplinas médicas.

A grande maioria dos ocidentais não chegou ao ponto de negar a existência de Deus --e dificilmente chegará--, mas relegou o sagrado a uma espécie de limbo. Um europeu típico --nas Américas a coisa é um pouco mais complicada-- diz que acredita em Deus e até vai a um culto cristão de vez em quando, mais por hábito do que por convicção profunda. Lê muito pouco a Bíblia e, felizmente, nem mesmo cogita de implementar as passagens que mandam apedrejar adúlteros --ou assassinar ateus, acrescento de olho em meus próprios interesses.

Não é só. Como procurei mostrar numa matéria que escrevi há pouco para a edição impressa da Folha, existe uma correlação negativa forte entre o grau de religiosidade de um país e seu sucesso econômico. Deus e pobreza andam de braços dados. Quem causa o que é uma questão aberta a interpretações.

É dessa pequena revolução iluminista que teve lugar no Ocidente que o islã se ressente. Lá muito mais do que cá, Estado e religião se confundem e tomam-se ao pé da letra as passagens do livro sagrado que descrevem o sofrimento futuro dos infiéis e as determinações do "Hadith" para que os apóstatas sejam assassinados.

Não estou evidentemente nem chegando perto de sugerir que essa novela em torno do aborto --e a vergonhosa capitulação de partidos que sempre defenderam um Estado laico-- nos coloca mais perto de uma teocracia. O próprio desenho institucional do país já veta essa possibilidade. Mas não é sem tristeza que assisto à negação da lógica laicista, que é a melhor coisa que aconteceu ao Ocidente nos últimos 300 anos.

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Hélio Schwartsman, 44 anos, é articulista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha.com.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/810042-fe-na-eleicao.shtml

NOTÍCIAS DO LADO NEGRO DA FORÇA!




VATICANO CRITICA NOBEL PARA PIONEIRO DOS BEBÊS DE PROVETA


O presidente da Pontifícia Academia para a Vida, monsenhor Ignacio Carrasco de Paula, criticou como "fora de lugar" a concessão do Prêmio Nobel de Medicina 2010 ao pioneiro da fecundação in vitro, o britânico Robert Edwards.

"Considero que selecionar Robert Edwards foi algo completamente fora de lugar", declarou o religioso espanhol à imprensa italiana. "Sem Edwards não existiriam congeladores em todo o mundo cheios de embriões que, no melhor dos casos, vão ser trasladados para úteros, mas que provavelmente serão abandonados ou morrerão. Desse problema é responsável o recém-premiado com o Nobel", acusou Carrasco de Paula.

O religioso, designado em junho passado para dirigir a instituição do Vaticano encarregada dos problemas de biomedicina e da defesa da vida, considera que Edwards é também responsável pelo mercado mundial de gametas femininos (óvulos). "Sem Edwards também não existiria o mercado dos óvulos, nem a venda de milhões de óvulos", acrescentou.

O Vaticano considera "moralmente ilícita" a fecundação em proveta e a eliminação voluntária de embriões que ela comporta. Carrasco de Paula reconhece, de qualquer maneira, o valor científico de Edwards, que "inaugurou um novo e importante capítulo da reprodução humana, cujos resultados são evidentes a todos", escreveu ainda.

Para o presidente da entidade pontifícia, as descobertas de Edwards suscitam "perplexidade". "Edwards inaugurou uma casa, mas abriu a porta equivocada", afirma o eclesiástico, que acredita que os tratamentos aplicados pelo Prêmio Nobel "não modificaram minimamente o quadro patológico ou epidemiológico da esterilidade". [i]

http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI4716847-EI8147,00-Vaticano+critica+Nobel+para+pioneiro+dos+bebes+de+proveta.html

sexta-feira, 1 de outubro de 2010