Robert Pirsig (in: "Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas")

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

RISCAR "DEUS SEJA LOUVADO": SOMOS UMA NAÇÃO LAICA!!!!



Ação tenta excluir “Deus seja louvado” das cédulas de reais




A expressão “Deus seja louvado” pode deixar de existir nas cédulas de reais. Isso porque a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo pediu à Justiça Federal que determine a retirada da frase alegando que o Estado brasileiro é laico e, portanto, deve estar completamente desvinculado de qualquer manifestação religiosa.
Segundo a procuradoria, a medida não gerará gastos aos cofres públicos já que, em caráter liminar, a ação pede que seja concedido à União o prazo de 120 dias para que as cédulas comecem a ser impressas sem a frase.
Ainda de acordo com a ação, “são lembrados princípios como o da igualdade e o da não exclusão das minorias para reforçar a tese de que a frase ‘Deus seja louvado’ privilegia uma religião em detrimento das outras”.
A ação também pede à Justiça Federal que estipule multa diária de R$ 1 caso a União não cumpra a decisão de retirar a expressão religiosa das cédulas. A multa teria caráter simbólico, “apenas para servir como uma espécie de contador do desrespeito que poderá ser demonstrado pela ré, não só pela decisão judicial, mas também pelas pessoas por ela beneficiadas”.
Entenda
Em comunicado enviado à imprensa, a procuradoria afirmou que em 2011 recebeu uma representação questionando a permanência da frase nas cédulas de reais. Durante a fase de inquérito, a Casa da Moeda informou à PRDC que cabe privativamente ao Banco Central (Bacen) “não apenas a emissão propriamente dita, como também a definição das características técnicas e artísticas” das cédulas. Para o Bacen o fundamento legal para a existência da expressão “Deus seja louvado” nas cédulas é o preâmbulo da Constituição, que afirma que ela foi promulgada “sob a proteção de Deus”.
Nota técnica divulgada pelo Ministério da Fazenda informou à PRDC que a inclusão da expressão religiosa nas cédulas aconteceu em 1986, por determinação direta do então presidente da República, José Sarney. Posteriormente, em 1994, com o Plano Real, a frase foi mantida pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, supostamente por ser “tradição da cédula brasileira”, apesar de ter sido inserida há poucos anos.
Para Dias, o principal objetivo da ação é proteger a “liberdade religiosa de todos os cidadãos”. Ele reconhece que a maioria da população professa religiões de origem cristã (católicos e evangélicos), mas lembra que “o Brasil optou por ser um Estado laico” e, portanto, tem o dever de proteger todas as manifestações religiosas, sem tomar partido de nenhuma delas.
“Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: ‘Alá seja louvado’, ‘Buda seja louvado’, ‘Salve Oxossi’, ‘Salve Lord Ganesha’, ‘Deus Não existe’. Com certeza haveria agitação na sociedade brasileira em razão do constrangimento sofrido pelos cidadãos crentes em Deus”, diz um trecho da ação. Para Dias, o fato dos cristãos serem maioria “não justifica a continuidade das violações aos direitos fundamentais dos brasileiros não crentes em Deus”.

(in: http://colunistas.ig.com.br/leisenegocios/2012/11/12/acao-tenta-excluir-expressao-%E2%80%9Cdeus-seja-louvado%E2%80%9D-das-cedulas-de-reais/ )

domingo, 9 de setembro de 2012

O HORROR DA RELIGIÃO E DE REPÚBLICAS FUNDAMENTALISTAS!



Paquistanesa cristã de 12 anos acusada de blasfêmia deixa a prisão

Rimsha Masih é escoltada até helicóptero um dia após tribunal definir fiança em 500 mil rúpias (quase R$ 11 mil)

FONTE: iG São Paulo  - Atualizada às 



A menina cristã paquistanesa Rimsha Masih, 12 anos, deixou a prisão neste sábado, um dia depois de um tribunal decidir por sua libertação sob fianças. Rimsha passou três semanas presa após ser acusada de queimar textos do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos.
A menina deixou a prisão em Rawalpindi com o rosto coberto e foi escoltada até um helicóptero. A fiança foi definida no valor de 500 mil rúpias (quase R$ 11 mil).
O presidente da Liga Ecumênica do Paquistão, Sajid Ishaq, se mostrou confiante de que as autoridades, que na quinta-feira constituíram um comitê de alto nível para acompanhar o caso, proporcionarão "a máxima segurança" a Rimsha e a seus familiares.
Rimsha Masih foi detida no último dia 16 de agosto em sua casa do subúrbio de Mehrabadi, em Islamabad, após ser acusada por um vizinho de ter queimado - sem saber, segundo seu próprio depoimento - páginas do Qaida Nurani, um livro de instruções para aprender a ler o Alcorão.
O caso de Rimsha, que atraiu os olhares de organizações de direitos humanos e de vários Governos ocidentais, sofreu uma reviravolta no final de semana passado após a detenção do imame de uma mesquita de Mehrabadi por ter falsificado provas contra a menor.
Khalid Yadun foi preso no domingo após ser acusado por um de seus assistentes de alterar as evidências e pôr folhas arrancadas do Corão na bolsa que continha as cinzas do que foi queimado pela menina.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

APUCARANA TENTA IMPOR RELIGIÃO À EDUCAÇÃO PÚBLICA E LAICA! iLEGALIDADE!!!




Vereadores de Apucarana decidem se alunos serão obrigadas a rezar o Pai-Nosso

A Câmara Municipal de Apucarana (PR) analisa na sessão desta segunda-feira (2), em segunda votação, projeto de lei que pretende instituir a oração diária


In: http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-1/artigo/vereadores-de-apucarana-decidem-se-alunos-serao-obrigadas-a-rezar-o-pai-nosso/

A Câmara Municipal de Apucarana (PR) analisa na sessão desta segunda-feira (2), em segunda votação, projeto de lei que pretende instituir a oração diária do Pai-Nosso em todas as escolas da rede municipal. "Nos horários de entrada das primeiras aulas de cada período, nos estabelecimentos oficiais de ensino da rede municipal, deverá ser realizada a oração universal do Pai-Nosso", diz o projeto, aprovado em primeira votação, por unanimidade, no último dia 25.

Autor da proposta, o vereador José Airton Araújo (PR), que ainda trabalha como vendedor ambulante e é conhecido como Deco do Cachorro-Quente, argumenta que a ideia reduziria os índices de violência e os casos de agressões de alunos contra professores. "Com uma oração, a criança já entra na sala de aula mais tranquila", justificou o parlamentar, em entrevista à Agência Brasil.

Localizada na região norte do Paraná, a 370 quilômetros de Curitiba, Apucarana tem 11 vereadores. O regimento do Legislativo municipal prevê três votações para um projeto ser aprovado. A reportagem da Agência Brasil apurou que, desde 2009, há uma lei sobre o mesmo tema em vigor na cidade. A legislação, porém, parece ser desconhecida pela maioria da população da cidade e não vem sendo cumprida.

Trata-se da Lei Municipal 217/2009, que obriga os professores da rede municipal a ministrar, em sala de aula, a leitura diária de um trecho da Bíblia, de livre escolha, seguida de uma oração. A lei também é de autoria do vereador José Airton. "Essa lei só existe no papel", diz Clotilde Corrêa Gomes, professora de inglês e português em Apucarana. Outras pessoas ouvidas pela reportagem também revelaram que sequer tinham conhecimento acerca da lei em vigor.

Questionado, o vereador Deco negou que a norma esteja sendo ignorada. Em defesa de seu novo projeto, o parlamentar, que é membro da igreja Assembleia de Deus, elogia o conteúdo da oração especificada em sua proposta. "A oração do Pai-Nosso é universal, não é só dos católicos e evangélicos", alega José Airton. "Ela é perfeita, um testemunho de vida em cada palavra."

A professora é contra a medida. "Acho um absurdo. Ao instituir uma oração estritamente cristã, o projeto tira o direito das crianças que vêm de famílias de outras crenças, como umbanda, candomblé, budismo, espiritismo, ou ainda das que não têm religião alguma", diz Clotilde. "É uma intimidação, uma forma de bullying."

Mãe de dois alunos que frequentam escolas de ensino fundamental em Apucarana, Alexandra Deretti concorda com a professora. "Eu sou católica, mas sou contra uma imposição desse tipo."

Apucarana tem cerca de 120 mil habitantes e pouco mais de 58,5 mil estudantes matriculados em escolas públicas e particulares. O Núcleo Regional da Secretaria de Estado da Educação já se pronunciou dizendo que as escolas não devem adotar propostas que contrariem a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação.

"A gente até entende as boas intenções do vereador, mas não cabe ao Estado impor valor religioso algum. A proposta tende a aumentar a intolerância", avalia Gustavo Biscaia de Lacerda, sociólogo da Universidade Federal do Paraná. "Também é questionável estabelecer relação de causalidade entre religião e violência, já que a quantidade de pessoas presas e que são adeptas de alguma religião não é pequena."

A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos informou que pretende denunciar o caso ao Ministério Público do Paraná. No último mês de abril, o Tribunal de Justiça da Bahia derrubou uma lei similar aprovada na cidade de Ilhéus, com o argumento de que se tratava de proselitismo religioso, o que é inconstitucional.

Em março deste ano, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul julgou procedente um pedido de retirada dos crucifixos dos prédios da Justiça gaúcha. "A laicidade é a garantia, pelo Estado, da liberdade religiosa de todos os cidadãos, sem preferência por uma ou outra corrente de fé", diz trecho da decisão. "O Estado não tem religião. É laico. Assim sendo, independentemente do credo ou da crença pessoal do administrador, o espaço das salas de sessões ou audiências, corredores e saguões de prédios do Poder Judiciário não podem ostentar quaisquer símbolos religiosos." As informações são da Agência Brasil.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

PESSOAS SEM RELIGIÃO E A GENEROSIDADE



Pessoas menos religiosas tendem a ser mais generosas, diz estudo

Estudo da Universidade da Califórnia envolveu 1.600 adultos nos EUA


(fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/generosidade-e-mais-forte-em-ateus-do-que-nos-mais-religiosos-diz-estudo )


Crentes podem não ser tão "bons samaritanos" quanto ateus e agnósticos. É o que sugere um estudo desenvolvido na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Publicado no periódico Social Psychological and Personality Science, o artigo afirma que pessoas menos religiosas tendem a ser mais sensíveis às necessidades de um estranho.
O experimento foi realizado em três etapas. Na primeira, os cientistas analisaram dados de uma enquete americana de 2004 entre 1.300 adultos. A análise mostrou que as pessoas menos religiosas eram mais caridosas do que os mais crentes. 

No segundo experimento, 101 adultos americanos assistiram a imagens de crianças muito pobres. Em seguida, os participantes receberam moedas falsas e foram instruídos a doar uma quantidade qualquer a um estranho. Novamente, os menos religiosos mostraram-se mais caridosos e doaram valores maiores.

"As imagens tiveram um grande efeito na generosidade dos menos crentes", disse o psicólogo Robb Willer, da Universidade de Berkley, coautor do estudo. "Mas não modificou de maneira significativa a generosidade dos participantes mais religiosos."

No último experimento, mais de 200 alunos universitários tinham que dizer quão compassivos estavam se sentindo no momento. Em seguida, participaram de jogos em que precisavam decidir se compartilhariam dinheiro com um estranho ou se guardariam para si.

Em uma rodada, os jogadores eram informados que haviam recebido doação de outro participante. Os agraciados tinham liberdade para decidir se recompensariam o doador devolvendo parte do dinheiro. Aqueles que haviam declarado baixa religiosidade e alta compaixão estiveram mais propensos a devolver parte do dinheiro recebido por um estranho do que os outros participantes do estudo.
De acordo com os autores, os menos religiosos apoiam a generosidade e a caridade na força da ligação emocional que estabelecem com um estranho. Já os mais religiosos parecem basear a generosidade menos na emoção e mais na doutrina e na identificação com a comunidade.

domingo, 22 de abril de 2012

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA - DRAUZIO VARELLA NA FOLHA DE S.PAULO




Intolerância religiosa

O fervor religioso é uma arma assustadora, disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso

SOU ATEU e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos.
A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência. Os que não sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são tão poucos que parecem extraterrestres.
Dono de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas sobre o destino depois da morte. A possibilidade de que a última batida do coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vivos.
Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que sobreviveriam à decomposição de seus corpos. Para atender esse desejo, o imaginário humano criou uma infinidade de deuses e paraísos celestiais. Jamais faltaram, entretanto, mulheres e homens avessos a interferências mágicas em assuntos terrenos. Perseguidos e assassinados no passado, para eles a vida eterna não faz sentido.
Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a crer leva outro a desacreditar.
Os religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode discordar de sua cosmovisão devem pensar que eles também são ateus quando confrontados com crenças alheias.
Que sentido tem para um protestante a reverência que o hindu faz diante da estátua de uma vaca dourada? Ou a oração do muçulmano voltado para Meca? Ou o espírita que afirma ser a reencarnação de Alexandre, o Grande? Para hindus, muçulmanos e espíritas esse cristão não seria ateu?
Na realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na encruzilhada quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que teria dado à luz ao filho do Senhor? Ou o politeísta ao ouvir que não há milhares, mas um único Deus?
Quantas tragédias foram desencadeadas pela intolerância dos que não admitem princípios religiosos diferentes dos seus? Quantos acusados de hereges ou infiéis perderam a vida?
O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções. Não é outra a razão que os fez apropriar-se indevidamente das melhores qualidades humanas e atribuir as demais às tentações do Diabo. Generosidade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo constituem reserva de mercado dos tementes a Deus, embora em nome Dele sejam cometidas as piores atrocidades.
Os pastores milagreiros da TV que tomam dinheiro dos pobres são tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares porque obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus, seriam considerados mensageiros de Satanás.
Ajudamos um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes aos quais nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas, não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do homem, mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como demonstraram os etologistas.
O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a sociedade -quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos massacres.
Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.
Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne intolerante, autoritária ou violenta.
Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos, superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por suas ações, não pelas convicções que apregoam.

domingo, 8 de abril de 2012

NÃO À RELIGIÃO NAS ESCOLAS: EDITORIAL DO JORNAL 'FOLHA DE S.PAULO'



Religião na escola

Estado deve impedir práticas confessionais em sala de aula na rede pública, não para reprimir a fé, mas para garantir liberdade religiosa

Há quase cem anos, um adolescente mineiro foi expulso do colégio de jesuítas onde estudava. Seu nome: Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

O motivo da expulsão também ganhou notoriedade: a "insubordinação mental" de que o acusavam tornou-se, com o passar dos anos, uma das muitas distinções da biografia do poeta.

Também mineiro, e com a mesma idade (17 anos) que tinha o escritor naquele episódio, o estudante Ciel Vieira "insubordinou-se", por assim dizer, diante de uma professora de geografia do seu colégio, na cidade de Miraí, a 355 km de Belo Horizonte.

A professora tinha por hábito iniciar as aulas rezando o Padre Nosso. Ateu, o estudante não acompanhou a classe na oração. A professora reagiu, dizendo ao jovem que ele não tinha Deus no coração e nunca seria nada na vida.

O caso ganhou repercussão, dando respaldo à atitude do estudante -que, com razão, não vê motivo para ser obrigado a rezar numa escola da rede pública.

Seria mais confortável, é claro, fingir uma adesão superficial ao rito. A atitude de independência do estudante se inscreve, todavia, num clima ideológico e cultural que se diferencia dos padrões de indiferença e acomodação típicos do Brasil de algumas décadas atrás.

Dos protestos contra a presença de crucifixos em repartições públicas ao questionamento judicial, por parte da União, dos critérios que devem reger o ensino religioso nas escolas, avolumam-se iniciativas para afirmar com mais nitidez o princípio da laicidade do Estado.

Ao mesmo tempo, vê-se em toda parte uma tendência, se não para o fundamentalismo religioso, pelo menos no rumo de um proselitismo militante. É uma manifestação legítima, desde que não resvale para a imposição ao público de valores e práticas cuja adoção constitui matéria de foro íntimo.

Denominações cristãs diversas fazem valer seu poder como mecanismos eleitorais. Bancadas parlamentares religiosas se organizaram em todos os níveis da Federação. A TV aberta promove intensamente este ou aquele credo.

Por demagogia ou convicção, surgem mesmo casos em que políticos quebram explicitamente o princípio da neutralidade do Estado em questões religiosas. Foi o que aconteceu em Ilhéus, onde vereadores e prefeito tornaram obrigatória a oração do Pai Nosso nas escolas municipais.

Casos assim podem parecer localizados e desimportantes. Todavia, a ideia de que o Estado não deve se imiscuir nas questões de fé tem uma relevância cada vez maior.

Não se trata de uma questão de militância ateísta -o que está em jogo é a liberdade de todas as religiões, indistintamente, para conviverem de forma pacífica, sem favor nem perseguição do poder público.

(Fonte: FOLHA DE S.PAULO, mas também encontrado em: http://www.foradoarmario.net/2012/04/religiao-na-escola-folha-de-sao-paulo.html )

segunda-feira, 26 de março de 2012

NÃO AOS CRUCIFIXOS: TERRENO LIVRE PARA A LIBERDADE!




TERRITÓRIO LIVRE

Imagine que você é o Galileu e está sendo processado pela Santa Inquisição por defender a ideia herética de que é a Terra que gira em torno do Sol, e não o contrário. Ao mesmo tempo, você está tendo problemas de família, filhos ilegítimos que infernizam a sua vida e dívidas que acabam levando você a outro tribunal, ao qual você comparece até com uma certa alegria. No tribunal civil, será você contra credores ou filhos ingratos, não você contra a Igreja e seus dogmas pétreos.

Você receberá uma multa ou uma reprimenda, ou talvez, com um bom advogado, até consiga derrotar seus acusadores, o que é impensável quando quem acusa é a Igreja.

Se tiver que ser preso, será por pouco tempo, e a ameaça de ir para a fogueira nem será cogitada. No tribunal laico, pelo menos por um tempo, você estará livre do poder da Igreja. É com esta sensação de alívio, de estar num espaço neutro onde sua defesa será ouvida, e talvez até prevaleça, que você entra no tribunal. E então você vê um enorme crucifixo na parede atrás do juiz. Não adianta, suspiraria você, desanimado, se fosse Galileu.

O poder dela está por toda parte. Por onde você andar, estará no território da Igreja. Por onde seu pensamento andar, estará sob escrutínio da Igreja. Não há espaços neutros. Um crucifixo na parede não é um objeto de decoração, é uma declaração. Na parede de espaços públicos de um país em que a separação de igreja e estado está explícita na Constituição, é uma desobediência, mitigada pelo hábito. Na parede dos espaços jurídicos deste País, onde a neutralidade, mesmo que não exista, deve ao menos ser presumida, é um contrassenso – como seria qualquer outro símbolo religioso pendurado. É inimaginável que um Galileu moderno se sinta acuado pela simples visão do símbolo cristão na parede atrás do juiz, mesmo porque a Igreja demorou, mas aceitou a teoria heliocêntrica de Copérnico e ninguém mais é queimado por heresia. Mas a questão não é esta, a questão é o nosso hipotético e escaldado Galileu poder encontrar, de preferência no Poder Judiciário, um território livre de qualquer religião, ou lembrança de religião.

Fala-se que a discussão sobre crucifixos em lugares públicos ameaça a liberdade de religião. É o contrário, o que no fundo se discute é como ser religioso sem impor sua religião aos outros, ou como preservar a liberdade de quem não acredita da prepotência religiosa. Com o crescimento político das igrejas neopentecostais, esta preocupação com a capacidade de discordar de valores atrasados impostos pelos religiosos a toda a sociedade, como nas questões do aborto e dos preservativos, tornou-se primordial. A retirada dos crucifixos das paredes também é uma declaração, no caso, de liberdade.

Fonte: http://gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/noticia.php?

domingo, 25 de março de 2012

DESABAFO DE UM SECULARISTA PREOCUPADO



Desabafo de um secularista preocupado

By Pablo Villaça1. março 2012 11:25

Marcelo Crivella é o novo ministro de Dilma - e, com isso, a bancada evangélica ganha oficialmente um cargo importante no governo (ênfase no "oficialmente"). Não sei nem como expressar meu profundo desapontamento com a presidenta - e vocês sabem que poucos fizeram tanta campanha por ela como eu. Assim, me espanta que dilmistas fundamentalistas tentem justificar a nomeação de Crivella dizendo que "o Ministério da Pesca é irrelevante" ou que "Crivella não é Malafaia". Ora, como bem apontou um leitor no Twitter, Crivella pode não ser espalhafatoso como seu colega "pastor", mas foi igualmente instrumental na derrota da PLC 122, que buscava barrar a homofobia.

O fato é que a presença de Crivella fortalece os teocratas - e esta é uma ameaça real e crescente. A bancada evangélica vem comendo o poder pelas beiradas e muitos parecem não perceber a estratégia. Há dez anos, se alguém tentasse apresentar uma lei que tornasse a oração compulsória em escolas públicas, seria rechaçado ou encarado como louco. Hoje, em Ilhéus, isto já é realidade. Logo a obrigação se espalhará para outras cidades e, antes que percebamos, será federalizada. É assim que eles agem; apresentam hoje uma lei que é encarada como absurda (permitir que crianças sejameducadas em casa - o que impedirá que aprendam sobre Evolução e outros conceitos rechaçados pelos evangélicos -; legalizar a "cura" da homossexualidade) sabendo que enfrentarão protestos - mas cientes de que, ao voltarem a apresentá-las com pequenas modificações em algum tempo, serão recebidos com menores objeções. Com isso, aos poucos vão transformando seus dogmas e preconceitos em legislação.

E é assim que nasce uma teocracia.

Mas a estratégia da bancada evangélica é ainda mais covarde: quando diante de protestos mais contundentes, imediatamente invoca a "liberdade religiosa" para defender suas posturas de intolerância e rematada ignorância, buscando atirar sobre seus oponentes um rótulo que descreve perfeitamente aquilo que eles mesmos fazem o tempo inteiro: o de preconceituosos e intolerantes.

O perigo é crescente: os evangélicos são organizados politica e financeiramente (com direito a isenção de impostos), sendo beneficiados também por poderem contar com um pensamento de manada que move suas bases: os fiéis/eleitores. Acostumados a aceitar a palavra dos "pastores" (sempre entre aspas, por favor) como verdade absoluta e a Bíblia como manual de instruções da vida, estes seguidores representam um contingente eleitoral quase imbatível - e enquanto os secularistas (ou simplesmente aqueles que, mesmo religiosos, acreditam na separação entre Igreja e Estado) não se organizarem e perceberem que estamos travando uma batalha por nossa liberdade, estes religiosos continuarão a ganhar mais e mais poder político.

Se nao fizermos nada, em 10 anos viveremos num país em que a oração é obrigatória em todas as escolas, gays são internados pra tratamento "corretivo", o criacionismo é ensinado nas escolas, filmes e séries com "mensagens satânicas" são banidos, as pesquisas cientificas são limitadas por dogmas religiosos e assim por diante. Acham exagero? Leiam os jornais e acompanhem a atuação da bancada evangélica e dos "pastores". Tudo que descrevi é defendido por eles.

Quanto à tal "liberdade religiosa", não se iludam: assim que os parlamentares evangélicos se fortalecerem o suficiente, descobriremos que "liberdade religiosa" significa abaixar a cabeça pra eles - e isto incluirá membros de inúmeras outras denominações religiosas, de católicos a espíritas. A imagem do "pastor" chutando a estátua de uma santa não deve ser esquecida; os "pastores" evangélicos tratam os demais credos como aberrações. E sei que logo surgirão fiéis dizendo que não são assim, que estou me referindo a exceções em sua religião, mas o fato é que estas "exceções" são justamente oslíderes de suas organizações - e não é possível dizer que um grupo é inocente quando praticamente todos os seus cabeças têm sangue nas mãos.

Acreditem: lamento muito não conseguir ficar calado diante desta ameaça real. Profissionalmente, seria muito mais inteligente me abster. Perco leitores ao me manifestar - não só evangelicos não fanáticos, mas outros que queriam apenas ler sobre cinema. Sei disso. E repito: sinto por isso. Mas antes de tudo, sou cidadão. E antes de ser cidadão, sou pai. E não quero ver meus filhos crescendo numa teocracia.

Caminhamos pra isso.


Fonte:

http://www3.cinemaemcena.com.br/pv/BlogPablo/post/2012/03/01/Desabafo-de-um-secularista-preocupado.aspx

terça-feira, 3 de janeiro de 2012