Robert Pirsig (in: "Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas")

sábado, 24 de dezembro de 2011

25 DE DEZEMBRO: MOMENTO DE LEMBRAR DE MAIS OUTRO "AMIGO INVISÍVEL"...





Egito, 5000 anos atrás (aproximadamente):

o deus Hórus nasceu em 25 de Dezembro da virgem Isis-Meri. O seu nascimento foi acompanhado por uma estrela do Leste, que, por sua vez, foi seguida por 3 reis. Aos 12 anos, era uma criança prodígio, e aos 30 foi batizado por uma figura conhecida por Anup. Hórus tinha 12 seguidores, viajou com eles e fez milagres.

Era também conhecido por vários nomes: A Verdade, A luz, Bom pastor, Cordeiro de Deus, entre muitos outros. Depois de traído por Tifão, foi morto e 3 dias depois ressuscitou.

Estes atributos de Hórus influenciaram várias culturas mundiais e muitos outros deuses são encontrados com a mesma estrutura mitológica.

[devemos lembrar que o mito do dilúvio universal remonta aos babilônicos ...]

[devemos lembrar ainda que o símbolo do panteão religioso egípcio era uma chave: a chave da eternidade. Se olharmos bem, veremos que a "cruz" cristã nada mais é que uma representação pictórica deste mesmo símbolo egípcio] ... e por aí vai!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A dura vida dos ateus no Brasil ...



A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico


A parábola do taxista e a intolerância. Reflexão a partir de uma conversa no trânsito de São Paulo. A expansão da fé evangélica está mudando “o homem cordial”?




O diálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz. Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom. Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”. Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada...”, ele contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões.
- Você é evangélico? – ela perguntou. - Sou! – ele respondeu, animado. - De que igreja? - Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve.- Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida?- Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá.- Legal.- De que religião você é?- Eu não tenho religião. Sou ateia.- Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve.- Não, eu não sou religiosa. Sou ateia.- Deus me livre!- Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha.- (riso nervoso).- Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé?- Por que as boas ações não salvam.- Não?- Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva.- Mas eu não quero ser salva.- Deus me livre!- Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível.- Acho que você é espírita.- Não, já disse a você. Sou ateia.- É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar.- Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância?- É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto...
O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal.)
Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se:
- Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta.- Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la.Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa.
A parábola do taxista me faz pensar em como a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico – ou cada vez mais neopentecostal, já que é esta a característica das igrejas evangélicas que mais crescem. O catolicismo – no mundo contemporâneo, bem sublinhado – mantém uma relação de tolerância com o ateísmo. Por várias razões. Entre elas, a de que é possível ser católico – e não praticante. O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno. Outra razão importante é que o catolicismo está disseminado na cultura, entrelaçado a uma forma de ver o mundo que influencia inclusive os ateus. Ser ateu num país de maioria católica nunca ameaçou a convivência entre os vizinhos. Ou entre taxistas e passageiros.
Já com os evangélicos neopentecostais, caso das inúmeras igrejas que se multiplicam com nomes cada vez mais imaginativos pelas esquinas das grandes e das pequenas cidades, pelos sertões e pela floresta amazônica, o caso é diferente. E não faço aqui nenhum juízo de valor sobre a fé católica ou a dos neopentecostais. Cada um tem o direito de professar a fé que quiser – assim como a sua não fé. Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro.
Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas? Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista. Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica.
É também por essa razão que a Igreja Católica, que em períodos de sua longa história atraiu fiéis com ossos de santos e passes para o céu, vive hoje o dilema de ser ameaçada pela vulgaridade das relações capitalistas numa fé de mercado. Dilema que procura resolver de uma maneira bastante inteligente, ao manter a salvo a tradição que tem lhe garantido poder e influência há dois mil anos, mas ao mesmo tempo estimular sua versão de mercado, encarnada pelos carismáticos. Como uma espécie de vanguarda, que contém o avanço das tropas “inimigas” lá na frente sem comprometer a integridade do exército que se mantém mais atrás, padres pop star como Marcelo Rossi e movimentos como a Canção Nova têm sido estratégicos para reduzir a sangria de fiéis para as neopentecostais. Não fosse esse tipo de abordagem mais agressiva e possivelmente já existiria uma porção ainda maior de evangélicos no país.
Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões. Afinal, não há nada mais ameaçador para o mercado do que quem está fora do mercado por convicção. E quem está fora do mercado da fé? Os ateus. É possível convencer um católico, um espírita ou um umbandista a mudar de religião. Mas é bem mais difícil – quando não impossível – converter um ateu. Para quem não acredita na existência de Deus, qualquer produto religioso, seja ele material, como um travesseiro que cura doenças, ou subjetivo, como o conforto da vida eterna, não tem qualquer apelo. Seria como vender gelo para um esquimó.
Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Mas percebem que o cerco se aperta e, a qualquer momento, temem que alguém possa empunhar um punhado de dentes de alho diante deles ou iniciar um exorcismo ali mesmo, no sinal fechado ou na padaria da esquina. Acuados, têm preferido declarar-se “agnósticos”. Com sorte, parte dos crentes pode ficar em dúvida e pensar que é alguma igreja nova.
Já conhecia a “Bola de Neve” (ou “Bola de Neve Church, para os íntimos”, como diz o seu site), mas nunca tinha ouvido falar da “Novidade de Vida”. Busquei o site da igreja na internet. Na página de abertura, me deparei com uma preleção intitulada: “O perigo da tolerância”. O texto fala sobre as famílias, afirma que Deus não é tolerante e incita os fiéis a não tolerar o que não venha de Deus. Tolerar “coisas erradas” é o mesmo que “criar demônios de estimação”. Entre as muitas frases exemplares, uma se destaca: “Hoje em dia, o mal da sociedade tem sido a Tolerância (em negrito e em maiúscula)”. Deus me livre!, um ateu talvez tenha vontade de dizer. Mas nem esse conforto lhe resta.
Ainda que o crescimento evangélico no Brasil venha sendo investigado tanto pela academia como pelo jornalismo, é pouco para a profundidade das mudanças que tem trazido à vida cotidiana do país. As transformações no modo de ser brasileiro talvez sejam maiores do que possa parecer à primeira vista. Talvez estejam alterando o “homem cordial” – não no sentido estrito conferido por Sérgio Buarque de Holanda, mas no sentido atribuído pelo senso comum.
Me arriscaria a dizer que a liberdade de credo – e, portanto, também de não credo – determinada pela Constituição está sendo solapada na prática do dia a dia. Não deixa de ser curioso que, no século XXI, ser ateu volte a ter um conteúdo revolucionário. Mas, depois que Sarah Sheeva, uma das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, passou a pastorear mulheres virgens – ou com vontade de voltar a ser – em busca de príncipes encantados, na “Igreja Celular Internacional”, nada mais me surpreende.
Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele.

sábado, 8 de outubro de 2011

ÍMPIO! (recomendamos)




"Tornar-se ateu exige reflexão", afirma autor de "Ímpio"

MARCELO JUCÁ

da Livraria da Folha


"Ímpio", do jornalista (e ateu) Fábio Marton é a história de uma vida religiosa, de sua peregrinação pelo evangelho e a libertação final (no caso, expulsou outros tipos de "incômodos").
Acostumado a grandes reportagens, o autor narra de forma envolvente e bem-humorada seus traumas e ousadias, das questões familiares até o pensamento cético que, de certa forma o tranquilizou, ao mesmo tempo que gerou maus olhados por parte de outros.
"A última notícia é que um tio meu por lado de mãe, a parte católica da família, estava lendo, não me disseram o que achou", revela.
Narrado em primeira pessoa, a obra ainda traz curiosos "recortes" em páginas negras, que remetem pensamentos antigos e constatações cientificas sobre a evolução do homem.
Para o autor, não existe ateu que não tenha buscado conhecimento no campo da ciência ou filosofia. "Existem muitos religiosos afastados ou não-praticantes, mas tornar-se ateu exige reflexão. Os ateus não são todos eloquentes para explicar o que pensam, mas todos tiveram de pensar para chegar lá", destaca.
Em entrevista à Livraria da Folha, Marton fala a razão de ter escrito o livro, de que se incomoda com o fanatismo religioso (o termo "ímpio" se refere justamente a isso, a não se dignar --e mesmo desprezar-- fanatismos religiosos), e ainda analisa o papel da religião na família e na formação de cada indivíduo.
Confira.
*
Livraria da Folha- Como surgiu a ideia de escrever o livro? Era algo que o incomodava e precisava compartilhar com o mundo, foi uma oportunidade, ou uma grande reportagem que, por acaso, tem você como personagem principal?
Fábio Marton - Foi mais eu perceber que tinha uma história para contar, não um trabalho "missionário" como ateu. Eu nunca tentei esconder de ninguém que sou ateu, mas não fazia o tipo militante. Entre jornalistas, aconteceu uma vez de ficarem mais ofendidos por eu não acreditar em horóscopo que por não acreditar em Deus. Eu me dou por satisfeito quando as pessoas seguem ramos mais tolerantes de sua religião, não sinto a necessidade de desconvertê-las. Enfrentar o fanatismo me parece mais urgente e mais realista que enfrentar a religião em si. Mas, a quem me perguntar, eu explico porque acho a religião uma imensa baboseira. E vou reagir quando ouvir uma baboseira maior ainda, como a que quem não tem fé é imoral, ou que criacionismo deva ser ensinado em aulas de biologia.

Livraria da Folha- Seu histórico familiar tem enorme influência na sua formação até o momento em que se assume ateu. Com certeza, a afirmativa trouxe espanto. Alguém da sua família leu o livro?
Fábio Marton - Eu não disse nada a eles sobre o lançamento do livro, mas havia dito que estava escrevendo. Acabaram descobrindo mesmo assim. A última notícia é que um tio meu por lado de mãe, a parte católica da família, estava lendo, não me disseram o que achou. Um blog evangélico citou meu livro, e tive a impressão que um parente meu apareceu por lá para comentar. Disse que sou ingrato e fracassado, e gastei todo meu dinheiro com bebida e prostituição. Mentira. Eu nunca paguei por prostituição.
Livraria da Folha- O estilo de sua escrita, trazendo referências pops e nerds, pode também despertar o interesse, o debate sobre a religião e sociedade, para um público mais alienado?
Fábio Marton - Não gosto muito dessa palavra, "alienado". Costuma ser sinônimo de quem não concorda com aquele professor ultra-radical do cursinho, o que dizia que a Guerra do Paraguai foi causada pela Inglaterra. Como falei, eu tinha uma história para contar, a história de um adolescente que vivia nesse mundo de referências pop dos anos 80, mesmo sendo crente. Foi uma coisa que surgiu naturalmente, e espero que esse contraste meio bizarro, que existia de verdade em mim, tenha tornado a leitura mais divertida.

Livraria da Folha- Aliás, entre o "público alienado", muitos erguem a bandeira de "ateu", sem saber exatamente o que isso quer dizer, pois nunca se interessaram em ler ou discutir sobre as diferentes religiões com colegas. O que acha dessa constatação?

Fábio Marton - Não acho que exista ateu sem educação, não só científica, como também um tanto de filosofia. As crianças costumam ser místicas, enxergando fantasmas e propósitos em todo lugar - você deixa isso para trás quando aprende explicações melhores. Ou você entende as contradições entre as afirmações da fé e do conhecimento, ou é apenas um religioso em férias. Existem muitos religiosos afastados ou não-praticantes, mas tornar-se ateu exige reflexão. Os ateus não são todos eloquentes para explicar o que pensam, mas todos tiveram de pensar para chegar lá.
Livraria da Folha- O papel da família mudou nesse sentido? Ela influencia ainda hoje os jovens? Entende que está também relacionado às diferenças das classes sociais e localizações geográficas brasileiras?
Fábio Marton - Li várias matérias dizendo que é comum as pessoas ficarem em casa até muito tarde na vida hoje em dia, às vezes até os 40 anos. Eu saí de casa cedo, e isso foi importante para mim. Sinto que só comecei a ser quem eu sou hoje nesse momento. De certa forma, é fácil imaginar alguém que dependa dos pais ocultando seu ateísmo, ou mesmo evitando falhar na religião para não ofendê-los, ainda que eu mesmo tenha assumido meu ateísmo antes de sair de casa. A saída da religião não depende da família (exceto, é claro, se a família é quem for não religiosa) mas do que você aprende no mundo exterior. Nisso de classes sociais e regiões, pode ser que abandonar a fé seja mais difícil para quem não tem computador em casa para acessar discussões de ateus ou informações sobre evolução, geologia e filosofia - mas eu também não tive, e nem dinheiro para comprar livros, usava a biblioteca pública e da escola. Talvez a pressão religiosa seja maior em outras regiões do país ou outras classes sociais (minha família transitava entre a B e C e vivia no Sul e Sudeste), mas não vivi isso para dizer até que ponto, e estaria pensando em estereótipos se fosse especular sobre isso.
Livraria da Folha- A ideia das páginas negras é interessante. O que o motivou a destacar as curiosidades ali vistas? Os dados apresentados passaram pelas suas mãos em diferentes épocas de sua vida, ou são leituras mais atuais e que quis apresentar ao público sem "atrapalhar" o texto principal?
Fábio Marton - Algumas coisas que aparecem lá são dúvidas que me ocorreram ainda adolescente, de forma incipiente, que eu reconto com o que conheço hoje. Por exemplo, eu percebi a contradição entre o Pentecostes bíblico e as línguas estranhas, mas não conhecia o trabalho de linguistas na área. Outras são raciocínios completamente novos - eu não havia sido apresentado a São Tomás de Aquino, Pascal ou Leibniz naquela época, meus parentes e os pastores não eram tão sofisticados. A razão de separar essas discussões do resto do livro é que ele não é um tratado de argumentos contra religião, como Deus, um Delírio - alias, um tratado excepcional, que eu não havia lido ainda ao escrever o livro. Ímpio é uma narrativa em primeira pessoa. Não dá para comparar meu livro com o de Richard Dawkins, mas talvez dê para comparar com os de Dan Barker, ex-pastor que se tornou ateu em 1984.
Livraria da Folha- Sendo ateu, você encara a vida, e a morte, de uma forma diferente?
Fábio Marton - Certamente. Se a vida é sua única chance, você precisa fazer o melhor possível dela. E isso causa, sim, ansiedade, de não estar indo tão bem assim - mas aprendi um truque com meu avô pastor, que cito no epílogo do livro. Já a morte deve ser mais tranquila para mim que para o cristão, porque não acredito que serei julgado. Será simplesmente como aquela tarde de 31 de maio de 1399. Como foi a sua? Você sofria por não existir? Pois a tarde de 31 de maio de 2199 será igual.
*
"Ímpio"

Autor: Fábio Marton

Editora: LeYa

Páginas: 224

Quanto: R$ 34,90

Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A CRUEL EXPLORACAO DA FE' - HOMEM ARRANCA OS PROPRIOS OLHOS NA ITALIA



Um homem arrancou os próprios olhos neste domingo em Viareggio, no norte da Itália, enquanto um serviço religioso era celebrado na catedral de San Andrea, informaram fontes policiais.
O homem de 46 anos nascido na Inglaterra mora há muitos anos na região de Toscava e assistia à missa quando se levantou de repente e começou a gritar, antes de arrancar os olhos com as próprias mãos.
Segundo a polícia, ele disse às autoridades que lhe atenderam que sua ação foi em resposta a "uma voz" que lhe disse para arrancar os olhos.
O homem foi levado ao hospital mais próximo de Versilia, onde foi operado com urgência. Os médicos, porém, não conseguiram recuperar os olhos e evitar que o paciente ficasse cego.
A polícia afirmou que o homem foi encaminhado à unidade de psiquiatria do hospital, onde realiza exames para a avaliação de seu estado de saúde mental.
(iN - http://www1.folha.uol.com.br/mundo/984401-homem-arranca-os-proprios-olhos-durante-missa-na-italia.shtml )

sábado, 27 de agosto de 2011

PROCURADORIA PROCESSA IGREJA E REDE TV! POR OFENSA A ATEUS



O Ministério Público Federal entrou com uma ação contra a RedeTV! e a Igreja Internacional da Graça de Deus sob acusação de terem ofendido os ateus.
Na ação, a Procuradoria reclama de frase dita pelo pastor João Batista no programa "O Profeta da Nação", exibido no dia 10 de março.
"Quem não acredita em Deus pode ir para bem longe de mim, porque a pessoa chega para esse lado, a pessoa que não acredita em Deus, ela é perigosa. Ela mata, rouba e destrói. O ser humano que não acredita em Deus atrapalha qualquer um", disse o pastor.



Para o procurador Jefferson Aparecido Dias, as declarações ferem a Constituição, que prevê a liberdade de pensamento e de religião. Ele lembra ainda que, apesar de a maioria da população ser cristã, o Estado brasileiro é laico.
O Ministério Público pede na Justiça que a emissora e a igreja exibam uma retratação durante o programa e uma explicação sobre a diversidade religiosa. As mensagens devem ter, no mínimo, o dobro do tempo da crítica do pastor.
A Procuradoria também quer que o Ministério das Comunicações fiscalize o programa.
A RedeTV! afirmou que não irá se manifestar porque o programa é uma produção independente de responsabilidade da igreja. A emissora ainda diz que não foi comunicada oficialmente da ação.
A Igreja da Graça foi procurada pela reportagem, mas ainda não se pronunciou.




terça-feira, 23 de agosto de 2011

ÓTIMA NOTÍCIA: CAI O PERCENTUAL DE CRENTES EM "AMIGOS INVISÍVEIS"



Dados saindo do forno do IBGE:


"Segundo a Fundação Getúlio Vargas, a redução da porcentagem de católicos no Brasil coincidiu com o aumento da porcentagem de brasileiros que se declaram ateus, que subiu de 5,13% em 2003 até 6,72% em 2009.

"Até o ano 2000, a redução dos católicos no país era atribuída diretamente ao crescimento dos grupos evangélicos no país, mas estes não registraram um crescimento de fiéis nos últimos seis anos tão elevado como o que registravam anteriormente."



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SE DEUS EXISTE, POR QUE O PAPA PRECISA DO PAPAMÓVEL?!?



(Da série: "Os grandes enigmas do Universo!")

domingo, 21 de agosto de 2011

A RELIGIÃO VAI ACABAR?




Qual o futuro da religião? A melhor forma de tentar responder à pergunta é olhar para o que vem acontecendo nos últimos anos e projetar a tendência para a(s) próxima(s) década(s). Não é garantia de acerto, mas é o melhor que podemos fazer. Embora não sejam muito comuns, surpresas ocorrem até em demografia.
Meu amigo Antônio Gois, que trabalha na sucursal da Folha no Rio de Janeiro e sabe como ninguém fuçar nos dados do IBGE, achou alguns números interessantes na POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 2009 e juntos escrevemos uma reportagem que foi publicada na edição de segunda-feira.
O que chama a atenção é que está crescendo rapidamente a proporção de evangélicos sem vínculo institucional. Eles constituíam apenas 4% dos protestantes na POF de 2003 e passaram a 14%. É um salto de mais de 4 milhões de almas.
A categoria é capciosa. Ela inclui desde fiéis compulsivos, que frequentam cultos de tantas igrejas que nem sabem dizer a qual pertencem, até pessoas que, por diversas razões, não se sentem mais ligadas a nenhuma denominação, mas não deixaram de considerar-se evangélicas, num processo aparentemente análogo ao que gera os chamados católicos não praticantes. Também é importante observar que, embora a POF seja uma pesquisa bastante confiável, que envolve quase 60 mil entrevistas, a real intensidade das tendências ainda carece de confirmação pelo Censo 2010, cujos dados sobre religião devem ser conhecidos nos próximos meses.
Cuidados à parte, uma interpretação possível para o fenômeno foi proposta pelo professor Ricardo Mariano, da PUC-RS. Para ele, parte dos evangélicos brasileiros vai adotando o "Believing without belonging" (crer sem pertencer), expressão cunhada pela socióloga Grace Davie para referir-se ao esvaziamento das igrejas com manutenção das crenças religiosas, verificado na Europa Ocidental.
A pergunta que fica é: até onde vai essa movimentação? Evidentemente, a distância do crer sem pertencer ao deixar de crer é menor do que o fosso que separa religiosos observantes de ateus convictos. E, na Europa, o secularismo em todos os seus matizes vem fazendo escola. De acordo com uma pesquisa de 2005 do Eurobarômetro, 52% dos cidadãos da União Europeia responderam que "acreditam em Deus", enquanto 27% preferiram apostar numa espécie de "espírito ou força vital" e 18% disseram não crer em nenhum "espírito, Deus ou força vital". Os resultados, é claro, variaram enormemente de um país para outro. Na católica Malta, por exemplo, a proporção dos crentes é de 95%, contra apenas 16% na Estônia.
Nos últimos 30 anos, a tendência geral na Europa tem sido de forte queda da religiosidade. Essa pelo menos é a conclusão do sociólogo francês Mattei Dogan, baseado em pesquisas que questionaram não apenas as crenças dos entrevistados mas também o peso que cada um deles atribuía à religião em sua vida.
Taxas de secularismo comparáveis às europeias só ocorrem em Israel, Japão, China e Coreia do Sul. No resto do mundo, os que se dizem religiosos vencem de lavada. No Brasil, por exemplo, os sem religião (categoria bem mais elástica que a de ateus e agnósticos) ficam, pela POF, um pouquinho abaixo dos 7%.
Vale ressaltar que, no velho continente, existem duas rotas distintas para a incredulidade. Há o caminho do esvaziamento, característico da porção ocidental, do qual o "Believing without belonging" parece ser uma fase, e há o caso dos países ex-comunistas, onde o ateísmo foi, em graus variados, imposto e/ou incentivado pelo Estado. A questão é que, quando os regimes autoritários ruíram, e as ideias religiosas voltaram a circular livremente, porções expressivas da população preferiram continuar sem seguir nenhuma fé.
Esse fenômeno é especialmente interessante na Alemanha, onde, ano a ano, vão-se reduzindo as diferenças culturais e econômicas que cindiam as populações da antiga Alemanha Ocidental (capitalista) e Oriental (comunista). Não obstante a homogeneização, a taxa de secularismo permanece bem marcada. Quase 67% dos alemães de origem oriental não têm filiação religiosa, contra apenas 18% entre os ocidentais.
Esse dado é consistente com os achados de Hart Nelsen (1990), que, pesquisando famílias interconfessionais nos EUA, concluiu que, se o pai não tem religião, mas a mãe tem, 1/6 dos filhos se torna irreligioso; quando o pai frequenta cultos, mas a mãe, não, a proporção de rebentos incréus vai a 50%; e, quando nenhum dos genitores vai à igreja, 84% da prole permanece secular. É um efeito parental de bom tamanho, que muito provavelmente mistura componentes genéticos com elementos de educação.
Receio, porém, que eu já esteja me perdendo. A proposta desse artigo não era discutir as condições de reprodução do ateísmo, mas apenas especular quanto ao futuro da religião. E, antes de arriscar um prognóstico, vale lembrar que esse é um terreno propício a equívocos de proporções históricas.
De fins do século 18, com o Iluminismo, até o final do século passado, era quase um consenso entre a elite bem pensante do planeta que o mundo caminhava para tornar-se menos religioso. O palpite se fundamentava em Darwin, Marx, Freud e Einstein, que haviam mostrado que o homem, um bicho como qualquer outro, não comandava a história nem mesmo a psique humana. Pior, o próprio Universo funcionava sem Deus, que pôde enfim ser reduzido a uma simples metáfora.
E tudo parecia seguir o "script". Grupos religiosos mais proeminentes se retraíam. Nos EUA, evangélicos caíram numa espécie de ostracismo após o fiasco da Lei Seca (1920-33) e do julgamento de Johns Scopes (1925), no qual as ideias criacionistas foram humilhadas. Na Europa, as coisas pareciam seguir o mesmo rumo. Ideologias fascistas e comunistas rapidamente tomaram o lugar das religiões tradicionais.
Mesmo no Terceiro Mundo, igrejas pareciam ceder terreno a líderes secularistas como Kemal Ataturk (Turquia, anos 20), Jawaharlal Nehru (Índia, anos 50). Também o islamismo dava indícios de que sucumbiria diante do pan-arabismo de Gemal Abdel Nasser nos anos 60. Ao que consta, até o Estado judeu não era tão judeu assim. David Ben Gurion, o fundador de Israel, um secularista convicto, só concordou que a lei rabínica fosse adotada para regular casamentos e divórcios no país porque estava certo de que os ortodoxos estavam com seus dias contados.
Em 1966, a bem-comportada revista "Time" chegou a estampar em sua capa a pergunta "Deus está morto?". Em 1999, a "Economist" publicou em sua edição do milênio o obituário de Deus.
Só que nós, os bem pensantes, quebramos a cara. Apesar dos sinais, a religião jamais se tornou minoritária senão em meia dúzia de países europeus. E, mesmo lá, com o aumento da imigração (uma consequência da queda da fecundidade) e a chegada de grandes contingentes de trabalhadores islâmicos e de outras religiões, não apenas o ritmo do processo de secularização sofreu alteração como ainda surgiram tensões culturais, que têm o perverso efeito de tornar as minorias religiosas mais histriônicas e, por vezes, violentas. E aí veio o 11 de Setembro que lançou todos os holofotes sobre o choque de civilizações e a questão da fé. De repente, parecia que todos os problemas do mundo eram consequência da religião, ou, dependendo da perspectiva, da falta dela.
Hoje, é claro, são muito poucos os especialistas que apostam no fim da religião, mas isso não significa que ela esteja crescendo. Mesmo nos EUA, que às vezes dão a impressão de ser uma espécie de convento pós-industrial, os sem religião estão entre as categorias que mais crescem nas estatísticas. Já batem nos 16%. O sociólogo alemão Detlef Pollack, em recente declaração à revista "Der Spiegel" (por caridade, dou o link para a versão em inglês da reportagem), estima que, no futuro, pelo menos 70% dos alemães se tornarão seculares, mas que as religiões jamais chegarão a desaparecer.
Números excluídos, o prognóstico é consistente com as conclusões de neurocientistas. Uma linha profícua de pesquisa tem sido a que coloca a religiosidade como uma das muitas possibilidades de variação da mente humana, algo comparável às diferenças de personalidade. A psicóloga Catherine Caldwell-Harris, por exemplo, sugere que o ateísmo e a secularidade são consequência de um estilo cognitivo que coloca mais ênfase na lógica do que na intuição. É o preponderante entre pacientes da síndrome de Asperger, uma forma de autismo que produz um bom número de engenheiros e físicos.
Já Andrew Newberg, em "Why God Won't Go Away: Brain Science and the Biology of Belief" (por que Deus não irá embora: neurociência e a biologia da crença), diz ter capturado, num aparelho de ressonância magnética funcional, a intuição de Deus. Ele analisou e descreveu as mudanças que experiências místicas causam no cérebro e propõe uma explicação física para elas (poupo o leitor dos detalhes neuroanatômicos). Em seguida, neste livro que é surpreendentemente carola, afirma que o que as religiões fazem é oferecer uma narrativa que concilia esses estados místicos com elementos da realidade, além de oferecer uma série de rituais que ajudam a promover essas experiências religiosas. Para Newberg, enquanto o cérebro humano for constituído dessa maneira, a religião existirá.
De minha parte, como um bom ateu liberal, aplaudo avanços no secularismo, na medida em que eles tendem a contrabalançar os aspectos mais exclusivistas das religiões, que não raro se consubstanciam em em violência e entraves à educação. Nesse contexto, o advento dos "evangélicos genéricos" no Brasil é uma boa notícia. Mas ao contrário de uma corrente de ateus mais veementes, não chego a ser contra a religião. A exemplo do que se dá com a filatelia, a poesia, o sexo e o rock, se bem usada, a religião pode ser fonte legítima de prazer para os apreciadores.

De hélio schwartsman



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

ESTUDO DIZ QUE ATEÍSMO VAI TOMAR O LUGAR DAS RELIGIÕES





Da FOLHA DE S. PAULO



Carolas, tremei.
Um estudo que será publicado neste mês aponta que, quanto mais desenvolvido o país, maior o número de ateus.
Para o autor Nigel Barber, portanto, chegará o dia em que quase todo o mundo vai se declarar sem religião.
A mudança já estaria ocorrendo. A pesquisa, feita em 137 países, mostra que nas economias mais desenvolvidas o número de descrentes é crescente.
Na Suécia, por exemplo, o índice chega a 64% da população, seguida por Dinamarca (48%), França (44%) e Alemanha (42%).
Na outra ponta, países da África sub-saariana têm menos de 1% de ateus.
O autor aponta razões mercadológicas para a baixa das religiões.
Segundo ele, as pessoas procuram as igrejas para se salvar de dificuldades e incertezas da vida.
Hoje profissionais como psicólogos e psiquiatras podem perfeitamente suprir essa lacuna.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

PRIMEIRA CAMPANHA ATEÍSTA NO BRASIL




Primeira campanha ateísta do Brasil é lançada em Porto Alegre






Por: Milton Ribeiro e Vivian Virissimo






[ver figuras na barra ao lado deste Blog - são os outdoors da campanha]



A partir desta terça-feira (5), Porto Alegre será a primeira capital brasileira a exibir outdoors de uma campanha de mídia sobre ateísmo. A iniciativa é da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos e já havia sido recusada pelas companhias de ônibus de São Paulo, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre.
A ATEA (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) havia anunciado em 13 de dezembro do ano passado que alguns ônibus de Porto Alegre ostentariam mensagens ateias, porém, segundo Daniel Sottomaior, a ATP (Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre) teria desistido da campanha na última hora. “Fiquei sabendo pela imprensa que a ATP vetara a veiculação dos anúncios. Quando contatei com a Associação, ela primeiro confirmou o veto e depois passou a dizer qua nada ocorrera e que desconhecia o assunto”, afirmou Sottomaior ao Sul21.
As peças são polêmicas e falam sobre fé, moralidade e ateísmo. Uma delas exibe as fotos de Charles Chaplin, que era ateu, e Adolf Hitler, que não era ateu, com os dizeres “religião não define caráter”. Outra afirma “Somos todos ateus com os deuses dos outros”, e traz imagens de uma divindade hindu, uma divindade egípcia e de Jesus de Nazaré, com as legendas “mito hidu”, “mito egípcio” e “mito palestino”. Uma terceira diz que “A fé não dá respostas, só impede perguntas”. Os cartazes devem ser exibidos ao longo de um mês.
Conforme pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, os ateus são as pessoas mais detestadas no país, merecendo repulsa, ódio ou antipatia de 42% da população. Para o presidente da entidade, Daniel Sottomaior, o propósito da campanha é aproximar o ateísmo do dia-a-dia da sociedade e assim ajudar a diminuir o preconceito que existe contra ateus.
Em junho, a entidade ganhou uma liminar que lhe concedia direito de resposta na Tevê Bandeirantes para responder a comentários considerados ofensivos do jornalista José Luiz Datena, no extinto programa Brasil Urgente. A liminar foi cassada mas o julgamento do mérito continua pendente. Datena e a Bandeirantes foram processados por diversos ateus no país devido a esse episódio.
Na ocasião, Datena disse que só quem não acredita em Deus é capaz de cometer crimes. Para ele, ateus são “pessoas do mal”, “bandidos”, “estupradores”, “assassinos” e atribuiu a culpa da violência e da corrupção no país aos ateus.
Entre os dias 4 e 17 de julho estarão expostos dois outdoors. Os outdoors da segunda quinzena serão outros.



quarta-feira, 15 de junho de 2011

ENSINO RELIGIOSO É PERIGO PARA A DEMOCRACIA





Já sabemos o que a religião fez na Idade Média, nos países islâmicos e no "puritano" EUA. Uma enquete do IG (veja em: "Para minorias, ensino religioso obrigatório é ameaça", http://www.ig.com.br/ ) mostra a ameaça deste tipo de ensino para um Estado Laico como o Brasil.



segunda-feira, 23 de maio de 2011

domingo, 6 de março de 2011

A ODIOSA INSERÇÃO DA RELIGIÃO NAS ESCOLAS BRASILEIRAS



FOLHA, 03-03-2011

RELIGIÃO NA ESCOLA


Helio Schwartzmann


"O que são as histórias da Bíblia? Fábulas, contos de fadas?", pergunta a professora do 3º ano do ensino fundamental. "Não", respondem os alunos. "São reais!"

A cena, que teve lugar numa escola pública de Samambaia, cidade-satélite de Brasília, abre a reportagem de Angela Pinho sobre o ensino religioso no Brasil, publicada no último domingo na Folha. É um retrato perfeito da encrenca em que essa disciplina, que vem crescendo e hoje abarca mais ou menos a metade das escolas do país, nos lança.

Se as historietas bíblicas são reais, como quer a professora, então nós temos vários problemas. Procedamos por ramos do saber, a começar da física. De acordo, com Josué 10:12, Deus parou o Sol para que os israelitas pudessem massacrar os amorreus. Mesmo que eu não duvidasse da onipotência do Senhor, pelo que sabemos hoje de mecânica, nada na Terra sobreviveria a uma súbita interrupção de seu movimento de rotação. Em quem o aluno deve acreditar, no professor de religião ou no de ciência?

A física não o comoveu? Que tal a geologia? Pela Bíblia, a Terra tem cerca de 6.000 anos --5.771, a confiar nas contas dos rabinos. Pela geologia, são 4,5 bilhões. É difícil, para não dizer impossível, conciliar a literalidade das Escrituras com a existência de fósseis com idades substancialmente maiores que os seis milênios. Do lado de qual professor o aluno deve perfilar-se?

Talvez o problema esteja nas ciências "duras". Passemos às humanidades. A Bíblia, como todo mundo sabe ou deveria saber, é a fonte da moral, e os ensinamentos que ela traz nessa área são incontestáveis. Será? Em várias passagens, o "bom livro" autoriza ou mesmo manda fazer coisas que hoje consideraríamos horríveis, como vender nossas filhas como escravas (Êxodo 21:7) e assassinar parentes que abracem outras religiões (Deuteronômio 13:7). Se julgamos que a ética se aprende através de exemplos livrescos, sugiro trocar as Escrituras pelo mais benigno Marquês de Sade.OK. Alguém pode argumentar que essa professora é uma exceção. Afinal, ela parece estar sustentando a inerrância da Bíblia, conceito que, no Brasil, é defendido por poucas religiões, notadamente adventistas e testemunhas de Jeová. Para as demais, as Escrituras não precisam e nem podem ser tomadas ao pé da letra.

Admito que essa mudança de discurso nos livra de algumas das dificuldades mais vexatórias --já não precisamos conciliar o criacionismo da Terra jovem com as aulas de ciência--, mas nem de longe acaba com elas.

Como já expliquei numa coluna antiga, embora seja em teoria possível juntar uma teologia um bocadinho mais sofisticada com a seleção natural neodarwinista, essa conciliação acaba resultando num Deus menos atuante, que cria as leis do universo e se retira. Ocorre que esse é o Deus de Newton e de Leibniz, mas não o das pessoas que vão a cultos. Para elas, um Deus que não ouve preces e não interfere nos destinos dos humanos é inútil. E esse Deus que elas querem --e que os sacerdotes pretendem colocar nas aulas de religião-- é, pelo menos no plano psicológico, incompatível com a ciência contemporânea que deveria ser ensinada nas escolas.

Não estou evidentemente sugerindo que as pessoas devam rifar Deus para ficar com a ciência. Essa é a minha opção, mas não acho que deva impô-la a ninguém. O simples fato de uns 90% da humanidade manifestar preferências religiosas é um bom indício de que essa é uma característica da espécie, como a tendência a gostar de música ou aquela quedinha por substâncias psicoativas. A verdade é que o ser humano tem algo de esquizofrênico. Só conseguimos conchavar crenças religiosas, que de algum modo acabam apelando ao impossível ou improvável, com o rigor lógico exigido pelo método científico, porque nosso cérebro está dividido em módulos. "Grosso modo", quando a parte responsável pelo pensamento lógico está ativa, inibe a área da religião, e vice-versa. Com esse mecanismo, as contradições, quando não passam despercebidas, tornam-se digeríveis.Até para facilitar esse processo, não convém que religião e ciência sejam ensinadas no mesmo espaço. Para que a criançada aprenda desde cedo a distinguir o discurso do "lógos" (científico) do do "mythos" (religioso), é melhor que a escola trate apenas da ciência e que a religião fique a cargo dos templos.

Cuidado, não estou afirmando que não seja possível estudar a religião com ferramentas científicas. Em princípio, a sociologia, a antropologia, a psicologia e a neurociência estão aí para isso. Mas convém lembrar que estamos falando aqui de crianças de 6 a 15 anos, muitas das quais mal conseguem aprender português e as operações aritméticas básicas. Não me parece que a abordagem científica da religião deva ocupar um lugar muito alto na lista de prioridades. De resto, duvido que o lobby que advoga pelo ensino religioso esteja ansioso para ver a fé submetida a exame crítico.

Para além da cabeça da garotada, o ensino religioso na rede oficial também gera uma série de problemas institucionais. Como eu escrevi em texto que acompanhou a reportagem principal, a existência dessa disciplina em escolas públicas fere a separação entre Estado e igreja.

Pelo menos em teoria, o Brasil é um Estado laico. Não há religião oficial e o artigo 19 da Constituição proíbe expressamente o poder público de estabelecer cultos religiosos, subvencioná-los ou manter com eles relações de dependência ou aliança. É claro que a teoria soçobra antes mesmo de chegarmos ao artigo 19. O próprio preâmbulo da Carta invoca a "proteção de Deus", e o artigo 210 prevê o ensino religioso nas escolas públicas de ensino fundamental.

Vale aqui observar que a única Constituição verdadeiramente laica que tivemos foi a de 1891, que rompeu com a Igreja Católica e eliminou quase todos os seus privilégios. As que a sucederam reintroduziram o ensino religioso.

Embora doutrinadores gostem de dizer que não há contradição entre os artigos 19 e 210, é forçoso reconhecer que colocá-los lado a lado gera pelo menos um mal-estar. Não é o único. A diferença é que, ao contrário de outros estrépitos constitucionais, que conseguem passar relativamente despercebidos, esse está produzindo consequências.

Por considerar que o Estado não pode regular matéria religiosa sem romper sua neutralidade diante delas (que caracteriza o laicismo), o CNE (Conselho Nacional de Educação) optou por não fixar parâmetros curriculares nacionais para a disciplina. A decisão é institucionalmente correta (e constitui uma prova indireta do erro que foi colocar o ensino religioso na escola pública), mas gerou um deus nos acuda, onde cada Estado definiu ao sabor da conjuntura política local como a matéria seria ministrada.As pesquisadoras Debora Diniz, Tatiana Lionço e Vanessa Carrião, em "Laicidade e Ensino Religioso no Brasil", traçam um panorama desse pequeno caos.

Pelo que elas puderam levantar, Acre, Bahia, Ceará e Rio de Janeiro optaram por um sistema confessional, que não se distingue da educação religiosa oferecida em escolas ligadas a igrejas. Não é preciso PhD em Direito para constatar que esse tipo de ensino afronta o dispositivo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação que veda o proselitismo no ensino religioso.

Os demais Estados menos São Paulo escolheram o modo interconfessional, no qual as religiões hegemônicas se unem contra as mais fracas e contra ateus e agnósticos para definir um núcleo de valores a ser ensinado aos alunos. Tampouco é um exemplo de defesa dos direitos das minorias.

Apenas São Paulo fez uma leitura um pouco mais crítica dos mandamentos constitucionais e se definiu pelo ensino não confessional. Pelo menos no papel, aqui as crianças têm aulas de história das religiões, no que é provavelmente a única forma de juntar sem produzir muitas fagulhas o ensino religioso com o princípio da separação entre Estado e religião.Resta apenas responder porque a laicidade é assim tão importante. O problema com as religiões reveladas é que elas trazem absolutos morais. Se a lei foi baixada pelo Altíssimo, apenas querer discuti-la já representaria uma segunda ofensa contra o Criador. E utilizar absolutos na política --religiosos ou ideológicos-- é ruim porque eles a descaracterizam como instância de mediação de conflitos. O remédio contra isso, como já intuíram no século 18 os "philosophes" do Iluminismo francês e os "founding fathers" dos EUA, é a separação Estado-igreja. Ela facilita o advento da política como arte da negociação e, mais importante, favorece a noção de que minorias têm direitos que devem ser protegidos mesmo contra a maioria. Aqui, paradoxalmente, o laicismo se torna a principal força a proteger as religiões umas das outras.


Fonte:

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

DE NOVO, A BATALHA ENTRE A IGREJA E O ESTADO



Audiência na Justiça Federal, em São Paulo, discutirá retirada de símbolos religiosos em espaços públicos


Erich Vallim Vicente


Um dos maiores trunfos da sociedade ocidental foi ter separado o Estado da Igreja. Como é de conhecimento comum, com base nos ideais da Revolução Francesa, de 1789 – "Igualdade, Fraternidade e Liberdade" –, os revolucionários burgueses destituíram o reinado dos Bourbon na França, decapitando na guilhotina Luis XVI e a rainha Maria Antonieta. Claro, nem tudo foi tão simples como aparece nestas poucas linhas. Há de se lembrar do período da Restauração, com a vitória das dinastias europeias em Waterloo, em 1815, e a prisão do general Napoleão Bonaparte. Dar um maior aprofundamento a estes pormenores, no entanto, é trabalho mais crível a historiadores, que há dois séculos se debruçam sobre o tema.

Fato é que o Ocidente limitou a autoridade religiosa, e isso não só foi bom naquele momento histórico, como continua sendo o diferencial desta sociedade perante culturas orientais, onde imãs, aiatolás etc. ainda dão as cartas. Ao estabelecer que a autoridade política não se origina de "predestinação divina" mas deve surgir da vontade do povo, os pensadores do Iluminismo – base teórica que se desencadeou na Revolução Francesa – legaram ao mundo a divisão entre o que interessa apenas a crenças pessoais e o que, de forma muito mais abrangente, está somente na esfera coletiva, onde "somos todos somos iguais perante a lei". Assim, cunhou-se o termo `Estado laico', do Liberalismo, o que difere totalmente de um `Estado ateu'.

Mas também é evidente que a religião mantém influência e faz parte do cotidiano do Ocidente.No ano passado, durante a eleição presidencial, o embate entre `Igreja' e `Estado' voltou à tona, envolvendo a liberação do aborto ou do casamento homossexual. Agora, 2011 inicia com outra polêmica. Está convocada para 24 de fevereiro, na 3a Vara Cível da Justiça Federal, em São Paulo, audiência pública com a finalidade de ouvir opiniões a respeito da continuidade ou não de símbolos religiosos afixados em estabelecimentos públicos. É comum em repartições públicas haver crucifixos, imagens sacras e, como acontece na Câmara Municipal de Piracicaba, ser feita a leitura da Bíblia antes do início das sessões ordinárias.O objeto da audiência é uma ação civil pública, com pedido de tutela antecipada, tendo por objeto a condenação da União Federal "em obrigação de fazer consubstanciada na retirada de todos os símbolos religiosos ostentados nos locais proeminentes, de ampla visibilidade e de atendimento ao público nos prédios públicos da União no Estado de São Paulo". Não é a primeira vez – e, acredito, nem será a última, por enquanto – que esta polêmica envolverá a Justiça Brasileira, em qualquer de suas instâncias. De um lado, os religiosos apelando pela "liberdade de culto"; do outro, cidadãos que questionam este resquício de Idade Média, ainda presente na maioria dos ambientes públicos do País.

A discussão poderia ser ainda mais ampla (e polêmica) se fosse tratar dos feriados nacionais. A maioria deles é não apenas cristão – como a Páscoa, Corpus Christi, Natal – como está baseado na liturgia da Igreja Católica Romana, sendo que algumas destas datas religiosas não são aceitas por denominações também cristãs. De fato, não há porque emaranhar-se em tema de forma tão espinhosa, o que não é o caso dos símbolos religiosos em prédios públicos. Retirá-los como respeito a ateus, judeus, muçulmanos, ou mesmo cristãos cientes dos espaços de sua crença, é a demonstração de que o Estado está baseado em símbolos de maior representação na coletividade, como a Bandeira Nacional e a Constituição Federal.

Retirar estes ícones religiosos é consentir com os sans-culottes (revolucionários burgueses) e com os iluministas da Europa do Século 18. Atuar sob este fundamento é demonstrar respeito à História do Ocidente, onde é possível crer e não crer, sem ter medo de sofrer preconceitos ou ser queimado em fogueiras públicas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

SOBRE DUAS ENORMES BOBAGENS: A TEORIA DO BIG BANG E O PAPA


Desde a década de 40 do século passado astrônomos, cosmólogos e físicos de partículas elementares defendem a idéia de um FIAT LUX ("faça-se a luz") em termos físicos. Para um dos redatores deste blog, isto não passa de uma releitura do mito cristão da criação. O Big Bang físico viola todas as leis de conservação (energia, momento, paridade), da relatividade geral e das próprias técnicas de medição da idade das estrelas mais velhas (vejam no YOUTUBE o excelente documentário UNIVERSE: THE COSMOLOGY QUEST, dirigido por Randall Meyers). Como não bastasse esta imensa bobagem, agora vem o Benedito (papa Benedetto XVI - o nome dele foi traduzido aqui no Brasil para "Bento XVI" e não "Benedito" para não ser motivo de chacotas óbvias ...), e diz que foi Deus (sem trocadilhos ...) quem criou o Big Bang. Bobagem ofensiva!!! Veja o que "informa" a matéria do UOL abaixo:


Deus é responsável pelo Big Bang, diz papa Bento 16



A mente de Deus esteve por trás de teorias científicas complexas como a do Big Bang, e os cristãos devem rejeitar a ideia de que o Universo tenha surgido por acaso, disse o papa Bento 16 nesta quinta-feira.


"O Universo não é fruto do acaso, como alguns querem que acreditemos", disse Bento 16 no dia em que os cristãos celebram a Epifania --a Bíblia diz que os três reis magos, seguindo uma estrela, chegaram ao lugar onde Jesus nasceu.


"Contemplando (o Universo), somos convidados a enxergar algo profundo nele: a sabedoria do Criador, a criatividade inesgotável de Deus", disse o papa em sermão para 10 mil fiéis na Basílica de São Pedro.


XXXXXX


Nas ocasiões anteriores em que o papa falou sobre a evolução, ele raramente voltou atrás no tempo para discutir conceitos específicos como o do Big Bang, que cientistas acreditam tenha levado à formação do Universo, cerca de 13,7 bilhões de anos atrás.


Pesquisadores da Cern (sigla francesa de Organização Européia de Pesquisa Nuclear, em Genebra) vêm esmagando prótons em velocidade quase igual à da luz para simular as condições que, acreditam, teriam dado origem ao Universo primordial, do qual terminaram por emergir as estrelas, os planetas e a vida na Terra --e possivelmente em outros lugares também.


Alguns ateus afirmam que a ciência pode provar que Deus não existe, mas o papa disse que algumas teorias científicas são "mentalmente limitadoras" porque "chegam apenas até certo ponto (...) e não conseguem explicar a realidade última (...)".


PERGUNTAS SEM RESPOSTAS


O papa declarou que as teorias científicas sobre a origem e o desenvolvimento do Universo e dos humanos, embora não entrem em conflito com a fé, deixam muitas perguntas sem resposta.


"Na beleza do mundo, em seu mistério, sua grandeza e sua racionalidade (...), só podemos nos deixar ser guiados em direção a Deus, criador do Céu e da Terra", disse ele.


Bento 16 e seu predecessor, João Paulo 2º, procuram despir a Igreja da imagem de ser contrária à ciência --rótulo que ela ganhou quando condenou Galileu por ensinar que a Terra gira em volta do Sol, contestando as palavras da Bíblia.


Galileu foi reabilitado, e hoje a Igreja também aceita a evolução como teoria científica e não vê razão pela qual Deus não possa ter empregado um processo evolutivo natural para formar a espécie humana.


A Igreja Católica deixou de ensinar o criacionismo --a ideia de que Deus teria criado o mundo em seis dias, conforme descrito na Bíblia-- e diz que o relato bíblico do livro do Gênesis é uma alegoria para explicar como Deus criou o mundo.


Mas a Igreja é contra o uso da evolução para respaldar uma filosofia ateia que nega a existência de Deus ou qualquer participação divina na criação. Ela também é contra o uso do livro do Gênesis como texto científico.