Robert Pirsig (in: "Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas")

sábado, 26 de dezembro de 2009

CRISTO DIVINIZADO, UMA INVENÇÃO



Historicamente falando, a própria existência de Cristo é discutível porque não existem relatos contemporâneos sobre a existência de um lider político ou religioso na Galiléia com esse nome. Todos os textos que mencionam Jesus são posteriores - inclusive os próprios evangelhos sinódicos e o de João. Naquela época, um historiador judeu romanizado chamado Flavius Josephus relata diversos eventos do período, inclusive sobre Pilatus e outros nomes, mas não escreve uma linha sequer sobre Jesus Cristo.
Josephus é tido no meio acadêmico como um grande historiador de sua época, especialmente por seu livro intitulado A GUERRA DOS JUDEUS. Neste, ele relata todos os conflitos, maiores ou menores, que envolveram judeus, romanos e outros povos. O livro foi escrito em 70 d.C., supostamente, 37 anos após a morte do Jesus "histórico". No entanto, nada há sobre Jesus neste imenso livro.
Seriam necessários ainda mais de dois séculos para que um imperador romano, através de um Concílio, o de Nicéia, oficializasse o cristianismo como religião de Estado. Reunindo relatos orais de séculos, deturpados na poeira dos tempos, selecionou quatro evangelhos e criou as bases da sociedade cristã que hoje nos aprisiona, como o islamismo e judaísmo, na crença de absurdos que seriam melhor reunidos se fossem contos de fadas, faunos ou Star Wars.

P.S. para os extremistas religiosos de plantão, apesar de ser judeu, Josephus bandeou-se para o lado romano, sendo considerado um traidor judeu. Isso dá mais credibilidade ao seu relato histórico, contido no excelente A GUERRA DOS JUDEUS, uma vez que seria do interesse do poder romano uma descrição completa e histórica dos conflitos que abalaram aquela região do planeta.

2 comentários:

Wilson Guerra disse...

O antropólogo e mitologista Joseph Campbell sempre insistiu nesse que ele considera um grande erro na cultura ocidental: o de transformar um símbolo, uma metáfora, em um fato concreto e em um evento histórico.
No livro "E por falar em mitos...", onde Fraser Boa transcreve um bate-papo com Campbell, há uma passagem que o mitologista diz:
"Uma das coisas que acontecem em nossas religiões ocidentais é que muitos símbolos foram erroneamente tomados por sinais, e toda a nossa mitologia é vista como uma pseudo-história que, na verdade, nunca ocorreu historicamente."
Noutra passagem, Campbell completa:
(...) há apenas dois modos de interpretar erroneamente um mito, e nossa civilização usou os dois. Um desses modos é pensar que o mito se refere a um fato geográfico ou histórico - Jesus ressuscitou dos mortos, Moisés recebeu a lei no alto do monte... esse tipo de coisa. O outro modo é achar que o mito se refere a um fato sobrenatural, ou a um evento real, que vai acontecer no futuro - a ressurreição de Jesus, ou a segunda vinda. Toda a nossa tradição religiosa se baseia nesses dois equívocos. O primeiro é a interpretação do mito como uma referência a fatos históricos; o segundo é a compreensão do mito como referência a fatos espirituais que existem num lugar invisível ou que deverão acontecer em algum momento futuro. É uma terrível tragédia. Esses equívocos de nosso mito nos fizeram perder o vocabulário do espírito."

Wilson Guerra disse...

Aqui há uma pequena matéria muito interessante onde Campbell faz mais observações sobre o terrível erro da concretização do símbolo e da literalização da metáfora:

http://www.amalgama.blog.br/02/2009/joseph-campbell-o-evolucionista-das-religioes