Robert Pirsig (in: "Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas")

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

"UM CONSELHO DE EDUCAÇÃO OBSCURANTISTA!"



"A Democracia implica no reconhecimento da multiplicidade cultural, étnica e religiosa vivenciada em nosso país. A existência efetiva de diferentes grupos, representantes desta multiplicidade, está garantida através da liberdade de poderem manifestar sua religião e sua cultura. Povos, até então marginalizados, são convidados agora a compor nossa matriz cultural como brasileiros e não como simples adereço exótico.
"A convivência em um ambiente onde as relações são reguladas por princípios democráticos proporciona visibilidade a grupos minoritários, tais como: indígenas, quilombolas, homossexuais e outros, não tão minoritários, como os negros e as de mulheres. Lembremos que estas últimas só conquistaram o direito ao voto em 1934. É neste contexto que se encontra em curso a conquista da cidadania, cenário este que acaba por imputar questões até então eclipsadas por uma cordialidade cínica, típica da “Casa Grande”.
"O conhecimento deste processo nos mostra que forças antagônicas operam em seu interior e seus atores ocupam posições conservadoras ou progressistas. A violência, muitas vezes, é resultado destas oposições e empregada como mecanismo de opressão pelo estado, onde a força policial atua como instrumento de resolução desta conflitividade social.
"Mas a violência que gostaria de ressaltar aqui é aquela violência velada, praticada por convenção, como um contrato coletivo e introjetado por determinado grupo dominante no interior da sociedade. Esta violência não tem por objetivo a imolação física do outro e sim o apagamento simbólico deste. Esta forma de anulação simbólica é extremamente perversa, pois promove a aniquilação da presença do outro no universo do imaginário coletivo da sociedade.
"O Conselho de Municipal de Educação de Maringá optou pela prática religiosa específica no início de suas reuniões, mesmo diante de lúcidos protestos de um único membro, a prática foi à votação e pasmem: aprovada por 12 X 1! Ao instituir este tipo de procedimento, o CME fere o Estatuto da Igualdade Racial, ignorando a multiplicidade cultural e religiosa de uma sociedade, a qual tem a obrigação de representar.
"A atitude de ignorar o mosaico religioso-cultural que compõe nossa sociedade possui duas explicações: a primeira é que o conselho, em quase a sua totalidade, desconhece a história da educação, no que tange a sua laicização e desconsidera a multiplicidade de concepções religiosas presentes em nossa cultura: isto é assustador. A segunda é mais assustadora ainda: o conselho entende a concepção judaico-cristã de mundo como universal e, a partir disso, assume uma postura de intolerância religiosa.
"Desta forma, este conselho pactua em torno da anulação simbólica do outro, neste caso: todas as outras convicções religiosas não contempladas nas correntes cristãs. Evidentemente, isto é uma afronta aos princípios democráticos, uma atitude preconceituosa, violenta e obscurantista. Resta-nos uma pergunta: são estas pessoas que decidirão sobre políticas públicas relacionadas à educação em Maringá?"

MARCIO LORIN - ARQUITETO URBANISTA

Nenhum comentário: