Folha de S. Paulo - 28/08/2009
Templo é dinheiro?
Clóvis Rossi
Passo a coluna para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), porque o que ele narra
consegue ser estarrecedor mesmo em um país em que parecia esgotado o estoque de
estarrecimentos.
Chico fala da madrugada de 26 para 27 deste mês, em que a Câmara dos Deputados
aprovou um absurdo projeto de lei que "dispõe sobre as garantias e direitos
fundamentais ao livre exercício da crença e dos cultos religiosos" ("você sabia que
estavam ameaçados?", pergunta o deputado. E você, sabia?).
Passemos ao estarrecedor, na palavra do deputado:
"Se o acordo Santa Sé/governo brasileiro já era questionável em vários aspectos, o
acordão com setores evangélicos (não a totalidade), patrocinado por quase todos os
partidos (inclusive o "oposicionista" DEM), à exceção do PSOL, foi um absurdo. O
projeto tramitou numa celeridade inédita (foi apresentado em julho agora) e, com o
relator Eduardo Cunha (PMDB-RJ, neoevangélico), avançou a toque de caixa em
plenário, sem ter sido nem sequer proposto no colégio de líderes".
Consequência da aprovação: "É o liberou geral. Agora, quem inventar uma "instituição
religiosa" terá sua organização obrigatoriamente reconhecida pelo Estado no simples ato de criação, independentemente de lastro histórico e cultural, doutrina, corpo de crença.
É o supermercado aberto da "fé". E a "instituição" poderá modificar à vontade suas
instâncias. E suas atividades gozarão de todas as isenções, imunidades e benefícios -
fiscais, trabalhistas, patrimoniais- possíveis e imagináveis".
O país já conhece o resultado do que Chico Alencar chama de "supermercado da fé",
graças às denúncias do Ministério Público contra a alta cúpula de um desses
"supermercados", que tem também uma rede de televisão, além de templos (aliás, Chico
pergunta: "templo é dinheiro?").
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