Robert Pirsig (in: "Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas")

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

RISCAR "DEUS SEJA LOUVADO": SOMOS UMA NAÇÃO LAICA!!!!



Ação tenta excluir “Deus seja louvado” das cédulas de reais




A expressão “Deus seja louvado” pode deixar de existir nas cédulas de reais. Isso porque a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo pediu à Justiça Federal que determine a retirada da frase alegando que o Estado brasileiro é laico e, portanto, deve estar completamente desvinculado de qualquer manifestação religiosa.
Segundo a procuradoria, a medida não gerará gastos aos cofres públicos já que, em caráter liminar, a ação pede que seja concedido à União o prazo de 120 dias para que as cédulas comecem a ser impressas sem a frase.
Ainda de acordo com a ação, “são lembrados princípios como o da igualdade e o da não exclusão das minorias para reforçar a tese de que a frase ‘Deus seja louvado’ privilegia uma religião em detrimento das outras”.
A ação também pede à Justiça Federal que estipule multa diária de R$ 1 caso a União não cumpra a decisão de retirar a expressão religiosa das cédulas. A multa teria caráter simbólico, “apenas para servir como uma espécie de contador do desrespeito que poderá ser demonstrado pela ré, não só pela decisão judicial, mas também pelas pessoas por ela beneficiadas”.
Entenda
Em comunicado enviado à imprensa, a procuradoria afirmou que em 2011 recebeu uma representação questionando a permanência da frase nas cédulas de reais. Durante a fase de inquérito, a Casa da Moeda informou à PRDC que cabe privativamente ao Banco Central (Bacen) “não apenas a emissão propriamente dita, como também a definição das características técnicas e artísticas” das cédulas. Para o Bacen o fundamento legal para a existência da expressão “Deus seja louvado” nas cédulas é o preâmbulo da Constituição, que afirma que ela foi promulgada “sob a proteção de Deus”.
Nota técnica divulgada pelo Ministério da Fazenda informou à PRDC que a inclusão da expressão religiosa nas cédulas aconteceu em 1986, por determinação direta do então presidente da República, José Sarney. Posteriormente, em 1994, com o Plano Real, a frase foi mantida pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, supostamente por ser “tradição da cédula brasileira”, apesar de ter sido inserida há poucos anos.
Para Dias, o principal objetivo da ação é proteger a “liberdade religiosa de todos os cidadãos”. Ele reconhece que a maioria da população professa religiões de origem cristã (católicos e evangélicos), mas lembra que “o Brasil optou por ser um Estado laico” e, portanto, tem o dever de proteger todas as manifestações religiosas, sem tomar partido de nenhuma delas.
“Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: ‘Alá seja louvado’, ‘Buda seja louvado’, ‘Salve Oxossi’, ‘Salve Lord Ganesha’, ‘Deus Não existe’. Com certeza haveria agitação na sociedade brasileira em razão do constrangimento sofrido pelos cidadãos crentes em Deus”, diz um trecho da ação. Para Dias, o fato dos cristãos serem maioria “não justifica a continuidade das violações aos direitos fundamentais dos brasileiros não crentes em Deus”.

(in: http://colunistas.ig.com.br/leisenegocios/2012/11/12/acao-tenta-excluir-expressao-%E2%80%9Cdeus-seja-louvado%E2%80%9D-das-cedulas-de-reais/ )

domingo, 9 de setembro de 2012

O HORROR DA RELIGIÃO E DE REPÚBLICAS FUNDAMENTALISTAS!



Paquistanesa cristã de 12 anos acusada de blasfêmia deixa a prisão

Rimsha Masih é escoltada até helicóptero um dia após tribunal definir fiança em 500 mil rúpias (quase R$ 11 mil)

FONTE: iG São Paulo  - Atualizada às 



A menina cristã paquistanesa Rimsha Masih, 12 anos, deixou a prisão neste sábado, um dia depois de um tribunal decidir por sua libertação sob fianças. Rimsha passou três semanas presa após ser acusada de queimar textos do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos.
A menina deixou a prisão em Rawalpindi com o rosto coberto e foi escoltada até um helicóptero. A fiança foi definida no valor de 500 mil rúpias (quase R$ 11 mil).
O presidente da Liga Ecumênica do Paquistão, Sajid Ishaq, se mostrou confiante de que as autoridades, que na quinta-feira constituíram um comitê de alto nível para acompanhar o caso, proporcionarão "a máxima segurança" a Rimsha e a seus familiares.
Rimsha Masih foi detida no último dia 16 de agosto em sua casa do subúrbio de Mehrabadi, em Islamabad, após ser acusada por um vizinho de ter queimado - sem saber, segundo seu próprio depoimento - páginas do Qaida Nurani, um livro de instruções para aprender a ler o Alcorão.
O caso de Rimsha, que atraiu os olhares de organizações de direitos humanos e de vários Governos ocidentais, sofreu uma reviravolta no final de semana passado após a detenção do imame de uma mesquita de Mehrabadi por ter falsificado provas contra a menor.
Khalid Yadun foi preso no domingo após ser acusado por um de seus assistentes de alterar as evidências e pôr folhas arrancadas do Corão na bolsa que continha as cinzas do que foi queimado pela menina.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

APUCARANA TENTA IMPOR RELIGIÃO À EDUCAÇÃO PÚBLICA E LAICA! iLEGALIDADE!!!




Vereadores de Apucarana decidem se alunos serão obrigadas a rezar o Pai-Nosso

A Câmara Municipal de Apucarana (PR) analisa na sessão desta segunda-feira (2), em segunda votação, projeto de lei que pretende instituir a oração diária


In: http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-1/artigo/vereadores-de-apucarana-decidem-se-alunos-serao-obrigadas-a-rezar-o-pai-nosso/

A Câmara Municipal de Apucarana (PR) analisa na sessão desta segunda-feira (2), em segunda votação, projeto de lei que pretende instituir a oração diária do Pai-Nosso em todas as escolas da rede municipal. "Nos horários de entrada das primeiras aulas de cada período, nos estabelecimentos oficiais de ensino da rede municipal, deverá ser realizada a oração universal do Pai-Nosso", diz o projeto, aprovado em primeira votação, por unanimidade, no último dia 25.

Autor da proposta, o vereador José Airton Araújo (PR), que ainda trabalha como vendedor ambulante e é conhecido como Deco do Cachorro-Quente, argumenta que a ideia reduziria os índices de violência e os casos de agressões de alunos contra professores. "Com uma oração, a criança já entra na sala de aula mais tranquila", justificou o parlamentar, em entrevista à Agência Brasil.

Localizada na região norte do Paraná, a 370 quilômetros de Curitiba, Apucarana tem 11 vereadores. O regimento do Legislativo municipal prevê três votações para um projeto ser aprovado. A reportagem da Agência Brasil apurou que, desde 2009, há uma lei sobre o mesmo tema em vigor na cidade. A legislação, porém, parece ser desconhecida pela maioria da população da cidade e não vem sendo cumprida.

Trata-se da Lei Municipal 217/2009, que obriga os professores da rede municipal a ministrar, em sala de aula, a leitura diária de um trecho da Bíblia, de livre escolha, seguida de uma oração. A lei também é de autoria do vereador José Airton. "Essa lei só existe no papel", diz Clotilde Corrêa Gomes, professora de inglês e português em Apucarana. Outras pessoas ouvidas pela reportagem também revelaram que sequer tinham conhecimento acerca da lei em vigor.

Questionado, o vereador Deco negou que a norma esteja sendo ignorada. Em defesa de seu novo projeto, o parlamentar, que é membro da igreja Assembleia de Deus, elogia o conteúdo da oração especificada em sua proposta. "A oração do Pai-Nosso é universal, não é só dos católicos e evangélicos", alega José Airton. "Ela é perfeita, um testemunho de vida em cada palavra."

A professora é contra a medida. "Acho um absurdo. Ao instituir uma oração estritamente cristã, o projeto tira o direito das crianças que vêm de famílias de outras crenças, como umbanda, candomblé, budismo, espiritismo, ou ainda das que não têm religião alguma", diz Clotilde. "É uma intimidação, uma forma de bullying."

Mãe de dois alunos que frequentam escolas de ensino fundamental em Apucarana, Alexandra Deretti concorda com a professora. "Eu sou católica, mas sou contra uma imposição desse tipo."

Apucarana tem cerca de 120 mil habitantes e pouco mais de 58,5 mil estudantes matriculados em escolas públicas e particulares. O Núcleo Regional da Secretaria de Estado da Educação já se pronunciou dizendo que as escolas não devem adotar propostas que contrariem a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação.

"A gente até entende as boas intenções do vereador, mas não cabe ao Estado impor valor religioso algum. A proposta tende a aumentar a intolerância", avalia Gustavo Biscaia de Lacerda, sociólogo da Universidade Federal do Paraná. "Também é questionável estabelecer relação de causalidade entre religião e violência, já que a quantidade de pessoas presas e que são adeptas de alguma religião não é pequena."

A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos informou que pretende denunciar o caso ao Ministério Público do Paraná. No último mês de abril, o Tribunal de Justiça da Bahia derrubou uma lei similar aprovada na cidade de Ilhéus, com o argumento de que se tratava de proselitismo religioso, o que é inconstitucional.

Em março deste ano, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul julgou procedente um pedido de retirada dos crucifixos dos prédios da Justiça gaúcha. "A laicidade é a garantia, pelo Estado, da liberdade religiosa de todos os cidadãos, sem preferência por uma ou outra corrente de fé", diz trecho da decisão. "O Estado não tem religião. É laico. Assim sendo, independentemente do credo ou da crença pessoal do administrador, o espaço das salas de sessões ou audiências, corredores e saguões de prédios do Poder Judiciário não podem ostentar quaisquer símbolos religiosos." As informações são da Agência Brasil.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

PESSOAS SEM RELIGIÃO E A GENEROSIDADE



Pessoas menos religiosas tendem a ser mais generosas, diz estudo

Estudo da Universidade da Califórnia envolveu 1.600 adultos nos EUA


(fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/generosidade-e-mais-forte-em-ateus-do-que-nos-mais-religiosos-diz-estudo )


Crentes podem não ser tão "bons samaritanos" quanto ateus e agnósticos. É o que sugere um estudo desenvolvido na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Publicado no periódico Social Psychological and Personality Science, o artigo afirma que pessoas menos religiosas tendem a ser mais sensíveis às necessidades de um estranho.
O experimento foi realizado em três etapas. Na primeira, os cientistas analisaram dados de uma enquete americana de 2004 entre 1.300 adultos. A análise mostrou que as pessoas menos religiosas eram mais caridosas do que os mais crentes. 

No segundo experimento, 101 adultos americanos assistiram a imagens de crianças muito pobres. Em seguida, os participantes receberam moedas falsas e foram instruídos a doar uma quantidade qualquer a um estranho. Novamente, os menos religiosos mostraram-se mais caridosos e doaram valores maiores.

"As imagens tiveram um grande efeito na generosidade dos menos crentes", disse o psicólogo Robb Willer, da Universidade de Berkley, coautor do estudo. "Mas não modificou de maneira significativa a generosidade dos participantes mais religiosos."

No último experimento, mais de 200 alunos universitários tinham que dizer quão compassivos estavam se sentindo no momento. Em seguida, participaram de jogos em que precisavam decidir se compartilhariam dinheiro com um estranho ou se guardariam para si.

Em uma rodada, os jogadores eram informados que haviam recebido doação de outro participante. Os agraciados tinham liberdade para decidir se recompensariam o doador devolvendo parte do dinheiro. Aqueles que haviam declarado baixa religiosidade e alta compaixão estiveram mais propensos a devolver parte do dinheiro recebido por um estranho do que os outros participantes do estudo.
De acordo com os autores, os menos religiosos apoiam a generosidade e a caridade na força da ligação emocional que estabelecem com um estranho. Já os mais religiosos parecem basear a generosidade menos na emoção e mais na doutrina e na identificação com a comunidade.

domingo, 22 de abril de 2012

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA - DRAUZIO VARELLA NA FOLHA DE S.PAULO




Intolerância religiosa

O fervor religioso é uma arma assustadora, disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso

SOU ATEU e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos.
A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência. Os que não sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são tão poucos que parecem extraterrestres.
Dono de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas sobre o destino depois da morte. A possibilidade de que a última batida do coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vivos.
Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que sobreviveriam à decomposição de seus corpos. Para atender esse desejo, o imaginário humano criou uma infinidade de deuses e paraísos celestiais. Jamais faltaram, entretanto, mulheres e homens avessos a interferências mágicas em assuntos terrenos. Perseguidos e assassinados no passado, para eles a vida eterna não faz sentido.
Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a crer leva outro a desacreditar.
Os religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode discordar de sua cosmovisão devem pensar que eles também são ateus quando confrontados com crenças alheias.
Que sentido tem para um protestante a reverência que o hindu faz diante da estátua de uma vaca dourada? Ou a oração do muçulmano voltado para Meca? Ou o espírita que afirma ser a reencarnação de Alexandre, o Grande? Para hindus, muçulmanos e espíritas esse cristão não seria ateu?
Na realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na encruzilhada quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que teria dado à luz ao filho do Senhor? Ou o politeísta ao ouvir que não há milhares, mas um único Deus?
Quantas tragédias foram desencadeadas pela intolerância dos que não admitem princípios religiosos diferentes dos seus? Quantos acusados de hereges ou infiéis perderam a vida?
O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções. Não é outra a razão que os fez apropriar-se indevidamente das melhores qualidades humanas e atribuir as demais às tentações do Diabo. Generosidade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo constituem reserva de mercado dos tementes a Deus, embora em nome Dele sejam cometidas as piores atrocidades.
Os pastores milagreiros da TV que tomam dinheiro dos pobres são tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares porque obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus, seriam considerados mensageiros de Satanás.
Ajudamos um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes aos quais nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas, não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do homem, mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como demonstraram os etologistas.
O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a sociedade -quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos massacres.
Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.
Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne intolerante, autoritária ou violenta.
Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos, superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por suas ações, não pelas convicções que apregoam.

domingo, 8 de abril de 2012

NÃO À RELIGIÃO NAS ESCOLAS: EDITORIAL DO JORNAL 'FOLHA DE S.PAULO'



Religião na escola

Estado deve impedir práticas confessionais em sala de aula na rede pública, não para reprimir a fé, mas para garantir liberdade religiosa

Há quase cem anos, um adolescente mineiro foi expulso do colégio de jesuítas onde estudava. Seu nome: Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

O motivo da expulsão também ganhou notoriedade: a "insubordinação mental" de que o acusavam tornou-se, com o passar dos anos, uma das muitas distinções da biografia do poeta.

Também mineiro, e com a mesma idade (17 anos) que tinha o escritor naquele episódio, o estudante Ciel Vieira "insubordinou-se", por assim dizer, diante de uma professora de geografia do seu colégio, na cidade de Miraí, a 355 km de Belo Horizonte.

A professora tinha por hábito iniciar as aulas rezando o Padre Nosso. Ateu, o estudante não acompanhou a classe na oração. A professora reagiu, dizendo ao jovem que ele não tinha Deus no coração e nunca seria nada na vida.

O caso ganhou repercussão, dando respaldo à atitude do estudante -que, com razão, não vê motivo para ser obrigado a rezar numa escola da rede pública.

Seria mais confortável, é claro, fingir uma adesão superficial ao rito. A atitude de independência do estudante se inscreve, todavia, num clima ideológico e cultural que se diferencia dos padrões de indiferença e acomodação típicos do Brasil de algumas décadas atrás.

Dos protestos contra a presença de crucifixos em repartições públicas ao questionamento judicial, por parte da União, dos critérios que devem reger o ensino religioso nas escolas, avolumam-se iniciativas para afirmar com mais nitidez o princípio da laicidade do Estado.

Ao mesmo tempo, vê-se em toda parte uma tendência, se não para o fundamentalismo religioso, pelo menos no rumo de um proselitismo militante. É uma manifestação legítima, desde que não resvale para a imposição ao público de valores e práticas cuja adoção constitui matéria de foro íntimo.

Denominações cristãs diversas fazem valer seu poder como mecanismos eleitorais. Bancadas parlamentares religiosas se organizaram em todos os níveis da Federação. A TV aberta promove intensamente este ou aquele credo.

Por demagogia ou convicção, surgem mesmo casos em que políticos quebram explicitamente o princípio da neutralidade do Estado em questões religiosas. Foi o que aconteceu em Ilhéus, onde vereadores e prefeito tornaram obrigatória a oração do Pai Nosso nas escolas municipais.

Casos assim podem parecer localizados e desimportantes. Todavia, a ideia de que o Estado não deve se imiscuir nas questões de fé tem uma relevância cada vez maior.

Não se trata de uma questão de militância ateísta -o que está em jogo é a liberdade de todas as religiões, indistintamente, para conviverem de forma pacífica, sem favor nem perseguição do poder público.

(Fonte: FOLHA DE S.PAULO, mas também encontrado em: http://www.foradoarmario.net/2012/04/religiao-na-escola-folha-de-sao-paulo.html )

segunda-feira, 26 de março de 2012

NÃO AOS CRUCIFIXOS: TERRENO LIVRE PARA A LIBERDADE!




TERRITÓRIO LIVRE

Imagine que você é o Galileu e está sendo processado pela Santa Inquisição por defender a ideia herética de que é a Terra que gira em torno do Sol, e não o contrário. Ao mesmo tempo, você está tendo problemas de família, filhos ilegítimos que infernizam a sua vida e dívidas que acabam levando você a outro tribunal, ao qual você comparece até com uma certa alegria. No tribunal civil, será você contra credores ou filhos ingratos, não você contra a Igreja e seus dogmas pétreos.

Você receberá uma multa ou uma reprimenda, ou talvez, com um bom advogado, até consiga derrotar seus acusadores, o que é impensável quando quem acusa é a Igreja.

Se tiver que ser preso, será por pouco tempo, e a ameaça de ir para a fogueira nem será cogitada. No tribunal laico, pelo menos por um tempo, você estará livre do poder da Igreja. É com esta sensação de alívio, de estar num espaço neutro onde sua defesa será ouvida, e talvez até prevaleça, que você entra no tribunal. E então você vê um enorme crucifixo na parede atrás do juiz. Não adianta, suspiraria você, desanimado, se fosse Galileu.

O poder dela está por toda parte. Por onde você andar, estará no território da Igreja. Por onde seu pensamento andar, estará sob escrutínio da Igreja. Não há espaços neutros. Um crucifixo na parede não é um objeto de decoração, é uma declaração. Na parede de espaços públicos de um país em que a separação de igreja e estado está explícita na Constituição, é uma desobediência, mitigada pelo hábito. Na parede dos espaços jurídicos deste País, onde a neutralidade, mesmo que não exista, deve ao menos ser presumida, é um contrassenso – como seria qualquer outro símbolo religioso pendurado. É inimaginável que um Galileu moderno se sinta acuado pela simples visão do símbolo cristão na parede atrás do juiz, mesmo porque a Igreja demorou, mas aceitou a teoria heliocêntrica de Copérnico e ninguém mais é queimado por heresia. Mas a questão não é esta, a questão é o nosso hipotético e escaldado Galileu poder encontrar, de preferência no Poder Judiciário, um território livre de qualquer religião, ou lembrança de religião.

Fala-se que a discussão sobre crucifixos em lugares públicos ameaça a liberdade de religião. É o contrário, o que no fundo se discute é como ser religioso sem impor sua religião aos outros, ou como preservar a liberdade de quem não acredita da prepotência religiosa. Com o crescimento político das igrejas neopentecostais, esta preocupação com a capacidade de discordar de valores atrasados impostos pelos religiosos a toda a sociedade, como nas questões do aborto e dos preservativos, tornou-se primordial. A retirada dos crucifixos das paredes também é uma declaração, no caso, de liberdade.

Fonte: http://gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/noticia.php?

domingo, 25 de março de 2012

DESABAFO DE UM SECULARISTA PREOCUPADO



Desabafo de um secularista preocupado

By Pablo Villaça1. março 2012 11:25

Marcelo Crivella é o novo ministro de Dilma - e, com isso, a bancada evangélica ganha oficialmente um cargo importante no governo (ênfase no "oficialmente"). Não sei nem como expressar meu profundo desapontamento com a presidenta - e vocês sabem que poucos fizeram tanta campanha por ela como eu. Assim, me espanta que dilmistas fundamentalistas tentem justificar a nomeação de Crivella dizendo que "o Ministério da Pesca é irrelevante" ou que "Crivella não é Malafaia". Ora, como bem apontou um leitor no Twitter, Crivella pode não ser espalhafatoso como seu colega "pastor", mas foi igualmente instrumental na derrota da PLC 122, que buscava barrar a homofobia.

O fato é que a presença de Crivella fortalece os teocratas - e esta é uma ameaça real e crescente. A bancada evangélica vem comendo o poder pelas beiradas e muitos parecem não perceber a estratégia. Há dez anos, se alguém tentasse apresentar uma lei que tornasse a oração compulsória em escolas públicas, seria rechaçado ou encarado como louco. Hoje, em Ilhéus, isto já é realidade. Logo a obrigação se espalhará para outras cidades e, antes que percebamos, será federalizada. É assim que eles agem; apresentam hoje uma lei que é encarada como absurda (permitir que crianças sejameducadas em casa - o que impedirá que aprendam sobre Evolução e outros conceitos rechaçados pelos evangélicos -; legalizar a "cura" da homossexualidade) sabendo que enfrentarão protestos - mas cientes de que, ao voltarem a apresentá-las com pequenas modificações em algum tempo, serão recebidos com menores objeções. Com isso, aos poucos vão transformando seus dogmas e preconceitos em legislação.

E é assim que nasce uma teocracia.

Mas a estratégia da bancada evangélica é ainda mais covarde: quando diante de protestos mais contundentes, imediatamente invoca a "liberdade religiosa" para defender suas posturas de intolerância e rematada ignorância, buscando atirar sobre seus oponentes um rótulo que descreve perfeitamente aquilo que eles mesmos fazem o tempo inteiro: o de preconceituosos e intolerantes.

O perigo é crescente: os evangélicos são organizados politica e financeiramente (com direito a isenção de impostos), sendo beneficiados também por poderem contar com um pensamento de manada que move suas bases: os fiéis/eleitores. Acostumados a aceitar a palavra dos "pastores" (sempre entre aspas, por favor) como verdade absoluta e a Bíblia como manual de instruções da vida, estes seguidores representam um contingente eleitoral quase imbatível - e enquanto os secularistas (ou simplesmente aqueles que, mesmo religiosos, acreditam na separação entre Igreja e Estado) não se organizarem e perceberem que estamos travando uma batalha por nossa liberdade, estes religiosos continuarão a ganhar mais e mais poder político.

Se nao fizermos nada, em 10 anos viveremos num país em que a oração é obrigatória em todas as escolas, gays são internados pra tratamento "corretivo", o criacionismo é ensinado nas escolas, filmes e séries com "mensagens satânicas" são banidos, as pesquisas cientificas são limitadas por dogmas religiosos e assim por diante. Acham exagero? Leiam os jornais e acompanhem a atuação da bancada evangélica e dos "pastores". Tudo que descrevi é defendido por eles.

Quanto à tal "liberdade religiosa", não se iludam: assim que os parlamentares evangélicos se fortalecerem o suficiente, descobriremos que "liberdade religiosa" significa abaixar a cabeça pra eles - e isto incluirá membros de inúmeras outras denominações religiosas, de católicos a espíritas. A imagem do "pastor" chutando a estátua de uma santa não deve ser esquecida; os "pastores" evangélicos tratam os demais credos como aberrações. E sei que logo surgirão fiéis dizendo que não são assim, que estou me referindo a exceções em sua religião, mas o fato é que estas "exceções" são justamente oslíderes de suas organizações - e não é possível dizer que um grupo é inocente quando praticamente todos os seus cabeças têm sangue nas mãos.

Acreditem: lamento muito não conseguir ficar calado diante desta ameaça real. Profissionalmente, seria muito mais inteligente me abster. Perco leitores ao me manifestar - não só evangelicos não fanáticos, mas outros que queriam apenas ler sobre cinema. Sei disso. E repito: sinto por isso. Mas antes de tudo, sou cidadão. E antes de ser cidadão, sou pai. E não quero ver meus filhos crescendo numa teocracia.

Caminhamos pra isso.


Fonte:

http://www3.cinemaemcena.com.br/pv/BlogPablo/post/2012/03/01/Desabafo-de-um-secularista-preocupado.aspx

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

sábado, 24 de dezembro de 2011

25 DE DEZEMBRO: MOMENTO DE LEMBRAR DE MAIS OUTRO "AMIGO INVISÍVEL"...





Egito, 5000 anos atrás (aproximadamente):

o deus Hórus nasceu em 25 de Dezembro da virgem Isis-Meri. O seu nascimento foi acompanhado por uma estrela do Leste, que, por sua vez, foi seguida por 3 reis. Aos 12 anos, era uma criança prodígio, e aos 30 foi batizado por uma figura conhecida por Anup. Hórus tinha 12 seguidores, viajou com eles e fez milagres.

Era também conhecido por vários nomes: A Verdade, A luz, Bom pastor, Cordeiro de Deus, entre muitos outros. Depois de traído por Tifão, foi morto e 3 dias depois ressuscitou.

Estes atributos de Hórus influenciaram várias culturas mundiais e muitos outros deuses são encontrados com a mesma estrutura mitológica.

[devemos lembrar que o mito do dilúvio universal remonta aos babilônicos ...]

[devemos lembrar ainda que o símbolo do panteão religioso egípcio era uma chave: a chave da eternidade. Se olharmos bem, veremos que a "cruz" cristã nada mais é que uma representação pictórica deste mesmo símbolo egípcio] ... e por aí vai!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A dura vida dos ateus no Brasil ...



A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico


A parábola do taxista e a intolerância. Reflexão a partir de uma conversa no trânsito de São Paulo. A expansão da fé evangélica está mudando “o homem cordial”?




O diálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz. Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom. Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”. Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada...”, ele contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões.
- Você é evangélico? – ela perguntou. - Sou! – ele respondeu, animado. - De que igreja? - Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve.- Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida?- Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá.- Legal.- De que religião você é?- Eu não tenho religião. Sou ateia.- Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve.- Não, eu não sou religiosa. Sou ateia.- Deus me livre!- Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha.- (riso nervoso).- Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé?- Por que as boas ações não salvam.- Não?- Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva.- Mas eu não quero ser salva.- Deus me livre!- Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível.- Acho que você é espírita.- Não, já disse a você. Sou ateia.- É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar.- Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância?- É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto...
O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal.)
Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se:
- Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta.- Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la.Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa.
A parábola do taxista me faz pensar em como a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico – ou cada vez mais neopentecostal, já que é esta a característica das igrejas evangélicas que mais crescem. O catolicismo – no mundo contemporâneo, bem sublinhado – mantém uma relação de tolerância com o ateísmo. Por várias razões. Entre elas, a de que é possível ser católico – e não praticante. O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno. Outra razão importante é que o catolicismo está disseminado na cultura, entrelaçado a uma forma de ver o mundo que influencia inclusive os ateus. Ser ateu num país de maioria católica nunca ameaçou a convivência entre os vizinhos. Ou entre taxistas e passageiros.
Já com os evangélicos neopentecostais, caso das inúmeras igrejas que se multiplicam com nomes cada vez mais imaginativos pelas esquinas das grandes e das pequenas cidades, pelos sertões e pela floresta amazônica, o caso é diferente. E não faço aqui nenhum juízo de valor sobre a fé católica ou a dos neopentecostais. Cada um tem o direito de professar a fé que quiser – assim como a sua não fé. Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro.
Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas? Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista. Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica.
É também por essa razão que a Igreja Católica, que em períodos de sua longa história atraiu fiéis com ossos de santos e passes para o céu, vive hoje o dilema de ser ameaçada pela vulgaridade das relações capitalistas numa fé de mercado. Dilema que procura resolver de uma maneira bastante inteligente, ao manter a salvo a tradição que tem lhe garantido poder e influência há dois mil anos, mas ao mesmo tempo estimular sua versão de mercado, encarnada pelos carismáticos. Como uma espécie de vanguarda, que contém o avanço das tropas “inimigas” lá na frente sem comprometer a integridade do exército que se mantém mais atrás, padres pop star como Marcelo Rossi e movimentos como a Canção Nova têm sido estratégicos para reduzir a sangria de fiéis para as neopentecostais. Não fosse esse tipo de abordagem mais agressiva e possivelmente já existiria uma porção ainda maior de evangélicos no país.
Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões. Afinal, não há nada mais ameaçador para o mercado do que quem está fora do mercado por convicção. E quem está fora do mercado da fé? Os ateus. É possível convencer um católico, um espírita ou um umbandista a mudar de religião. Mas é bem mais difícil – quando não impossível – converter um ateu. Para quem não acredita na existência de Deus, qualquer produto religioso, seja ele material, como um travesseiro que cura doenças, ou subjetivo, como o conforto da vida eterna, não tem qualquer apelo. Seria como vender gelo para um esquimó.
Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Mas percebem que o cerco se aperta e, a qualquer momento, temem que alguém possa empunhar um punhado de dentes de alho diante deles ou iniciar um exorcismo ali mesmo, no sinal fechado ou na padaria da esquina. Acuados, têm preferido declarar-se “agnósticos”. Com sorte, parte dos crentes pode ficar em dúvida e pensar que é alguma igreja nova.
Já conhecia a “Bola de Neve” (ou “Bola de Neve Church, para os íntimos”, como diz o seu site), mas nunca tinha ouvido falar da “Novidade de Vida”. Busquei o site da igreja na internet. Na página de abertura, me deparei com uma preleção intitulada: “O perigo da tolerância”. O texto fala sobre as famílias, afirma que Deus não é tolerante e incita os fiéis a não tolerar o que não venha de Deus. Tolerar “coisas erradas” é o mesmo que “criar demônios de estimação”. Entre as muitas frases exemplares, uma se destaca: “Hoje em dia, o mal da sociedade tem sido a Tolerância (em negrito e em maiúscula)”. Deus me livre!, um ateu talvez tenha vontade de dizer. Mas nem esse conforto lhe resta.
Ainda que o crescimento evangélico no Brasil venha sendo investigado tanto pela academia como pelo jornalismo, é pouco para a profundidade das mudanças que tem trazido à vida cotidiana do país. As transformações no modo de ser brasileiro talvez sejam maiores do que possa parecer à primeira vista. Talvez estejam alterando o “homem cordial” – não no sentido estrito conferido por Sérgio Buarque de Holanda, mas no sentido atribuído pelo senso comum.
Me arriscaria a dizer que a liberdade de credo – e, portanto, também de não credo – determinada pela Constituição está sendo solapada na prática do dia a dia. Não deixa de ser curioso que, no século XXI, ser ateu volte a ter um conteúdo revolucionário. Mas, depois que Sarah Sheeva, uma das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, passou a pastorear mulheres virgens – ou com vontade de voltar a ser – em busca de príncipes encantados, na “Igreja Celular Internacional”, nada mais me surpreende.
Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele.

sábado, 8 de outubro de 2011

ÍMPIO! (recomendamos)




"Tornar-se ateu exige reflexão", afirma autor de "Ímpio"

MARCELO JUCÁ

da Livraria da Folha


"Ímpio", do jornalista (e ateu) Fábio Marton é a história de uma vida religiosa, de sua peregrinação pelo evangelho e a libertação final (no caso, expulsou outros tipos de "incômodos").
Acostumado a grandes reportagens, o autor narra de forma envolvente e bem-humorada seus traumas e ousadias, das questões familiares até o pensamento cético que, de certa forma o tranquilizou, ao mesmo tempo que gerou maus olhados por parte de outros.
"A última notícia é que um tio meu por lado de mãe, a parte católica da família, estava lendo, não me disseram o que achou", revela.
Narrado em primeira pessoa, a obra ainda traz curiosos "recortes" em páginas negras, que remetem pensamentos antigos e constatações cientificas sobre a evolução do homem.
Para o autor, não existe ateu que não tenha buscado conhecimento no campo da ciência ou filosofia. "Existem muitos religiosos afastados ou não-praticantes, mas tornar-se ateu exige reflexão. Os ateus não são todos eloquentes para explicar o que pensam, mas todos tiveram de pensar para chegar lá", destaca.
Em entrevista à Livraria da Folha, Marton fala a razão de ter escrito o livro, de que se incomoda com o fanatismo religioso (o termo "ímpio" se refere justamente a isso, a não se dignar --e mesmo desprezar-- fanatismos religiosos), e ainda analisa o papel da religião na família e na formação de cada indivíduo.
Confira.
*
Livraria da Folha- Como surgiu a ideia de escrever o livro? Era algo que o incomodava e precisava compartilhar com o mundo, foi uma oportunidade, ou uma grande reportagem que, por acaso, tem você como personagem principal?
Fábio Marton - Foi mais eu perceber que tinha uma história para contar, não um trabalho "missionário" como ateu. Eu nunca tentei esconder de ninguém que sou ateu, mas não fazia o tipo militante. Entre jornalistas, aconteceu uma vez de ficarem mais ofendidos por eu não acreditar em horóscopo que por não acreditar em Deus. Eu me dou por satisfeito quando as pessoas seguem ramos mais tolerantes de sua religião, não sinto a necessidade de desconvertê-las. Enfrentar o fanatismo me parece mais urgente e mais realista que enfrentar a religião em si. Mas, a quem me perguntar, eu explico porque acho a religião uma imensa baboseira. E vou reagir quando ouvir uma baboseira maior ainda, como a que quem não tem fé é imoral, ou que criacionismo deva ser ensinado em aulas de biologia.

Livraria da Folha- Seu histórico familiar tem enorme influência na sua formação até o momento em que se assume ateu. Com certeza, a afirmativa trouxe espanto. Alguém da sua família leu o livro?
Fábio Marton - Eu não disse nada a eles sobre o lançamento do livro, mas havia dito que estava escrevendo. Acabaram descobrindo mesmo assim. A última notícia é que um tio meu por lado de mãe, a parte católica da família, estava lendo, não me disseram o que achou. Um blog evangélico citou meu livro, e tive a impressão que um parente meu apareceu por lá para comentar. Disse que sou ingrato e fracassado, e gastei todo meu dinheiro com bebida e prostituição. Mentira. Eu nunca paguei por prostituição.
Livraria da Folha- O estilo de sua escrita, trazendo referências pops e nerds, pode também despertar o interesse, o debate sobre a religião e sociedade, para um público mais alienado?
Fábio Marton - Não gosto muito dessa palavra, "alienado". Costuma ser sinônimo de quem não concorda com aquele professor ultra-radical do cursinho, o que dizia que a Guerra do Paraguai foi causada pela Inglaterra. Como falei, eu tinha uma história para contar, a história de um adolescente que vivia nesse mundo de referências pop dos anos 80, mesmo sendo crente. Foi uma coisa que surgiu naturalmente, e espero que esse contraste meio bizarro, que existia de verdade em mim, tenha tornado a leitura mais divertida.

Livraria da Folha- Aliás, entre o "público alienado", muitos erguem a bandeira de "ateu", sem saber exatamente o que isso quer dizer, pois nunca se interessaram em ler ou discutir sobre as diferentes religiões com colegas. O que acha dessa constatação?

Fábio Marton - Não acho que exista ateu sem educação, não só científica, como também um tanto de filosofia. As crianças costumam ser místicas, enxergando fantasmas e propósitos em todo lugar - você deixa isso para trás quando aprende explicações melhores. Ou você entende as contradições entre as afirmações da fé e do conhecimento, ou é apenas um religioso em férias. Existem muitos religiosos afastados ou não-praticantes, mas tornar-se ateu exige reflexão. Os ateus não são todos eloquentes para explicar o que pensam, mas todos tiveram de pensar para chegar lá.
Livraria da Folha- O papel da família mudou nesse sentido? Ela influencia ainda hoje os jovens? Entende que está também relacionado às diferenças das classes sociais e localizações geográficas brasileiras?
Fábio Marton - Li várias matérias dizendo que é comum as pessoas ficarem em casa até muito tarde na vida hoje em dia, às vezes até os 40 anos. Eu saí de casa cedo, e isso foi importante para mim. Sinto que só comecei a ser quem eu sou hoje nesse momento. De certa forma, é fácil imaginar alguém que dependa dos pais ocultando seu ateísmo, ou mesmo evitando falhar na religião para não ofendê-los, ainda que eu mesmo tenha assumido meu ateísmo antes de sair de casa. A saída da religião não depende da família (exceto, é claro, se a família é quem for não religiosa) mas do que você aprende no mundo exterior. Nisso de classes sociais e regiões, pode ser que abandonar a fé seja mais difícil para quem não tem computador em casa para acessar discussões de ateus ou informações sobre evolução, geologia e filosofia - mas eu também não tive, e nem dinheiro para comprar livros, usava a biblioteca pública e da escola. Talvez a pressão religiosa seja maior em outras regiões do país ou outras classes sociais (minha família transitava entre a B e C e vivia no Sul e Sudeste), mas não vivi isso para dizer até que ponto, e estaria pensando em estereótipos se fosse especular sobre isso.
Livraria da Folha- A ideia das páginas negras é interessante. O que o motivou a destacar as curiosidades ali vistas? Os dados apresentados passaram pelas suas mãos em diferentes épocas de sua vida, ou são leituras mais atuais e que quis apresentar ao público sem "atrapalhar" o texto principal?
Fábio Marton - Algumas coisas que aparecem lá são dúvidas que me ocorreram ainda adolescente, de forma incipiente, que eu reconto com o que conheço hoje. Por exemplo, eu percebi a contradição entre o Pentecostes bíblico e as línguas estranhas, mas não conhecia o trabalho de linguistas na área. Outras são raciocínios completamente novos - eu não havia sido apresentado a São Tomás de Aquino, Pascal ou Leibniz naquela época, meus parentes e os pastores não eram tão sofisticados. A razão de separar essas discussões do resto do livro é que ele não é um tratado de argumentos contra religião, como Deus, um Delírio - alias, um tratado excepcional, que eu não havia lido ainda ao escrever o livro. Ímpio é uma narrativa em primeira pessoa. Não dá para comparar meu livro com o de Richard Dawkins, mas talvez dê para comparar com os de Dan Barker, ex-pastor que se tornou ateu em 1984.
Livraria da Folha- Sendo ateu, você encara a vida, e a morte, de uma forma diferente?
Fábio Marton - Certamente. Se a vida é sua única chance, você precisa fazer o melhor possível dela. E isso causa, sim, ansiedade, de não estar indo tão bem assim - mas aprendi um truque com meu avô pastor, que cito no epílogo do livro. Já a morte deve ser mais tranquila para mim que para o cristão, porque não acredito que serei julgado. Será simplesmente como aquela tarde de 31 de maio de 1399. Como foi a sua? Você sofria por não existir? Pois a tarde de 31 de maio de 2199 será igual.
*
"Ímpio"

Autor: Fábio Marton

Editora: LeYa

Páginas: 224

Quanto: R$ 34,90

Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A CRUEL EXPLORACAO DA FE' - HOMEM ARRANCA OS PROPRIOS OLHOS NA ITALIA



Um homem arrancou os próprios olhos neste domingo em Viareggio, no norte da Itália, enquanto um serviço religioso era celebrado na catedral de San Andrea, informaram fontes policiais.
O homem de 46 anos nascido na Inglaterra mora há muitos anos na região de Toscava e assistia à missa quando se levantou de repente e começou a gritar, antes de arrancar os olhos com as próprias mãos.
Segundo a polícia, ele disse às autoridades que lhe atenderam que sua ação foi em resposta a "uma voz" que lhe disse para arrancar os olhos.
O homem foi levado ao hospital mais próximo de Versilia, onde foi operado com urgência. Os médicos, porém, não conseguiram recuperar os olhos e evitar que o paciente ficasse cego.
A polícia afirmou que o homem foi encaminhado à unidade de psiquiatria do hospital, onde realiza exames para a avaliação de seu estado de saúde mental.
(iN - http://www1.folha.uol.com.br/mundo/984401-homem-arranca-os-proprios-olhos-durante-missa-na-italia.shtml )

sábado, 27 de agosto de 2011

PROCURADORIA PROCESSA IGREJA E REDE TV! POR OFENSA A ATEUS



O Ministério Público Federal entrou com uma ação contra a RedeTV! e a Igreja Internacional da Graça de Deus sob acusação de terem ofendido os ateus.
Na ação, a Procuradoria reclama de frase dita pelo pastor João Batista no programa "O Profeta da Nação", exibido no dia 10 de março.
"Quem não acredita em Deus pode ir para bem longe de mim, porque a pessoa chega para esse lado, a pessoa que não acredita em Deus, ela é perigosa. Ela mata, rouba e destrói. O ser humano que não acredita em Deus atrapalha qualquer um", disse o pastor.



Para o procurador Jefferson Aparecido Dias, as declarações ferem a Constituição, que prevê a liberdade de pensamento e de religião. Ele lembra ainda que, apesar de a maioria da população ser cristã, o Estado brasileiro é laico.
O Ministério Público pede na Justiça que a emissora e a igreja exibam uma retratação durante o programa e uma explicação sobre a diversidade religiosa. As mensagens devem ter, no mínimo, o dobro do tempo da crítica do pastor.
A Procuradoria também quer que o Ministério das Comunicações fiscalize o programa.
A RedeTV! afirmou que não irá se manifestar porque o programa é uma produção independente de responsabilidade da igreja. A emissora ainda diz que não foi comunicada oficialmente da ação.
A Igreja da Graça foi procurada pela reportagem, mas ainda não se pronunciou.




terça-feira, 23 de agosto de 2011

ÓTIMA NOTÍCIA: CAI O PERCENTUAL DE CRENTES EM "AMIGOS INVISÍVEIS"



Dados saindo do forno do IBGE:


"Segundo a Fundação Getúlio Vargas, a redução da porcentagem de católicos no Brasil coincidiu com o aumento da porcentagem de brasileiros que se declaram ateus, que subiu de 5,13% em 2003 até 6,72% em 2009.

"Até o ano 2000, a redução dos católicos no país era atribuída diretamente ao crescimento dos grupos evangélicos no país, mas estes não registraram um crescimento de fiéis nos últimos seis anos tão elevado como o que registravam anteriormente."



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SE DEUS EXISTE, POR QUE O PAPA PRECISA DO PAPAMÓVEL?!?



(Da série: "Os grandes enigmas do Universo!")

domingo, 21 de agosto de 2011

A RELIGIÃO VAI ACABAR?




Qual o futuro da religião? A melhor forma de tentar responder à pergunta é olhar para o que vem acontecendo nos últimos anos e projetar a tendência para a(s) próxima(s) década(s). Não é garantia de acerto, mas é o melhor que podemos fazer. Embora não sejam muito comuns, surpresas ocorrem até em demografia.
Meu amigo Antônio Gois, que trabalha na sucursal da Folha no Rio de Janeiro e sabe como ninguém fuçar nos dados do IBGE, achou alguns números interessantes na POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 2009 e juntos escrevemos uma reportagem que foi publicada na edição de segunda-feira.
O que chama a atenção é que está crescendo rapidamente a proporção de evangélicos sem vínculo institucional. Eles constituíam apenas 4% dos protestantes na POF de 2003 e passaram a 14%. É um salto de mais de 4 milhões de almas.
A categoria é capciosa. Ela inclui desde fiéis compulsivos, que frequentam cultos de tantas igrejas que nem sabem dizer a qual pertencem, até pessoas que, por diversas razões, não se sentem mais ligadas a nenhuma denominação, mas não deixaram de considerar-se evangélicas, num processo aparentemente análogo ao que gera os chamados católicos não praticantes. Também é importante observar que, embora a POF seja uma pesquisa bastante confiável, que envolve quase 60 mil entrevistas, a real intensidade das tendências ainda carece de confirmação pelo Censo 2010, cujos dados sobre religião devem ser conhecidos nos próximos meses.
Cuidados à parte, uma interpretação possível para o fenômeno foi proposta pelo professor Ricardo Mariano, da PUC-RS. Para ele, parte dos evangélicos brasileiros vai adotando o "Believing without belonging" (crer sem pertencer), expressão cunhada pela socióloga Grace Davie para referir-se ao esvaziamento das igrejas com manutenção das crenças religiosas, verificado na Europa Ocidental.
A pergunta que fica é: até onde vai essa movimentação? Evidentemente, a distância do crer sem pertencer ao deixar de crer é menor do que o fosso que separa religiosos observantes de ateus convictos. E, na Europa, o secularismo em todos os seus matizes vem fazendo escola. De acordo com uma pesquisa de 2005 do Eurobarômetro, 52% dos cidadãos da União Europeia responderam que "acreditam em Deus", enquanto 27% preferiram apostar numa espécie de "espírito ou força vital" e 18% disseram não crer em nenhum "espírito, Deus ou força vital". Os resultados, é claro, variaram enormemente de um país para outro. Na católica Malta, por exemplo, a proporção dos crentes é de 95%, contra apenas 16% na Estônia.
Nos últimos 30 anos, a tendência geral na Europa tem sido de forte queda da religiosidade. Essa pelo menos é a conclusão do sociólogo francês Mattei Dogan, baseado em pesquisas que questionaram não apenas as crenças dos entrevistados mas também o peso que cada um deles atribuía à religião em sua vida.
Taxas de secularismo comparáveis às europeias só ocorrem em Israel, Japão, China e Coreia do Sul. No resto do mundo, os que se dizem religiosos vencem de lavada. No Brasil, por exemplo, os sem religião (categoria bem mais elástica que a de ateus e agnósticos) ficam, pela POF, um pouquinho abaixo dos 7%.
Vale ressaltar que, no velho continente, existem duas rotas distintas para a incredulidade. Há o caminho do esvaziamento, característico da porção ocidental, do qual o "Believing without belonging" parece ser uma fase, e há o caso dos países ex-comunistas, onde o ateísmo foi, em graus variados, imposto e/ou incentivado pelo Estado. A questão é que, quando os regimes autoritários ruíram, e as ideias religiosas voltaram a circular livremente, porções expressivas da população preferiram continuar sem seguir nenhuma fé.
Esse fenômeno é especialmente interessante na Alemanha, onde, ano a ano, vão-se reduzindo as diferenças culturais e econômicas que cindiam as populações da antiga Alemanha Ocidental (capitalista) e Oriental (comunista). Não obstante a homogeneização, a taxa de secularismo permanece bem marcada. Quase 67% dos alemães de origem oriental não têm filiação religiosa, contra apenas 18% entre os ocidentais.
Esse dado é consistente com os achados de Hart Nelsen (1990), que, pesquisando famílias interconfessionais nos EUA, concluiu que, se o pai não tem religião, mas a mãe tem, 1/6 dos filhos se torna irreligioso; quando o pai frequenta cultos, mas a mãe, não, a proporção de rebentos incréus vai a 50%; e, quando nenhum dos genitores vai à igreja, 84% da prole permanece secular. É um efeito parental de bom tamanho, que muito provavelmente mistura componentes genéticos com elementos de educação.
Receio, porém, que eu já esteja me perdendo. A proposta desse artigo não era discutir as condições de reprodução do ateísmo, mas apenas especular quanto ao futuro da religião. E, antes de arriscar um prognóstico, vale lembrar que esse é um terreno propício a equívocos de proporções históricas.
De fins do século 18, com o Iluminismo, até o final do século passado, era quase um consenso entre a elite bem pensante do planeta que o mundo caminhava para tornar-se menos religioso. O palpite se fundamentava em Darwin, Marx, Freud e Einstein, que haviam mostrado que o homem, um bicho como qualquer outro, não comandava a história nem mesmo a psique humana. Pior, o próprio Universo funcionava sem Deus, que pôde enfim ser reduzido a uma simples metáfora.
E tudo parecia seguir o "script". Grupos religiosos mais proeminentes se retraíam. Nos EUA, evangélicos caíram numa espécie de ostracismo após o fiasco da Lei Seca (1920-33) e do julgamento de Johns Scopes (1925), no qual as ideias criacionistas foram humilhadas. Na Europa, as coisas pareciam seguir o mesmo rumo. Ideologias fascistas e comunistas rapidamente tomaram o lugar das religiões tradicionais.
Mesmo no Terceiro Mundo, igrejas pareciam ceder terreno a líderes secularistas como Kemal Ataturk (Turquia, anos 20), Jawaharlal Nehru (Índia, anos 50). Também o islamismo dava indícios de que sucumbiria diante do pan-arabismo de Gemal Abdel Nasser nos anos 60. Ao que consta, até o Estado judeu não era tão judeu assim. David Ben Gurion, o fundador de Israel, um secularista convicto, só concordou que a lei rabínica fosse adotada para regular casamentos e divórcios no país porque estava certo de que os ortodoxos estavam com seus dias contados.
Em 1966, a bem-comportada revista "Time" chegou a estampar em sua capa a pergunta "Deus está morto?". Em 1999, a "Economist" publicou em sua edição do milênio o obituário de Deus.
Só que nós, os bem pensantes, quebramos a cara. Apesar dos sinais, a religião jamais se tornou minoritária senão em meia dúzia de países europeus. E, mesmo lá, com o aumento da imigração (uma consequência da queda da fecundidade) e a chegada de grandes contingentes de trabalhadores islâmicos e de outras religiões, não apenas o ritmo do processo de secularização sofreu alteração como ainda surgiram tensões culturais, que têm o perverso efeito de tornar as minorias religiosas mais histriônicas e, por vezes, violentas. E aí veio o 11 de Setembro que lançou todos os holofotes sobre o choque de civilizações e a questão da fé. De repente, parecia que todos os problemas do mundo eram consequência da religião, ou, dependendo da perspectiva, da falta dela.
Hoje, é claro, são muito poucos os especialistas que apostam no fim da religião, mas isso não significa que ela esteja crescendo. Mesmo nos EUA, que às vezes dão a impressão de ser uma espécie de convento pós-industrial, os sem religião estão entre as categorias que mais crescem nas estatísticas. Já batem nos 16%. O sociólogo alemão Detlef Pollack, em recente declaração à revista "Der Spiegel" (por caridade, dou o link para a versão em inglês da reportagem), estima que, no futuro, pelo menos 70% dos alemães se tornarão seculares, mas que as religiões jamais chegarão a desaparecer.
Números excluídos, o prognóstico é consistente com as conclusões de neurocientistas. Uma linha profícua de pesquisa tem sido a que coloca a religiosidade como uma das muitas possibilidades de variação da mente humana, algo comparável às diferenças de personalidade. A psicóloga Catherine Caldwell-Harris, por exemplo, sugere que o ateísmo e a secularidade são consequência de um estilo cognitivo que coloca mais ênfase na lógica do que na intuição. É o preponderante entre pacientes da síndrome de Asperger, uma forma de autismo que produz um bom número de engenheiros e físicos.
Já Andrew Newberg, em "Why God Won't Go Away: Brain Science and the Biology of Belief" (por que Deus não irá embora: neurociência e a biologia da crença), diz ter capturado, num aparelho de ressonância magnética funcional, a intuição de Deus. Ele analisou e descreveu as mudanças que experiências místicas causam no cérebro e propõe uma explicação física para elas (poupo o leitor dos detalhes neuroanatômicos). Em seguida, neste livro que é surpreendentemente carola, afirma que o que as religiões fazem é oferecer uma narrativa que concilia esses estados místicos com elementos da realidade, além de oferecer uma série de rituais que ajudam a promover essas experiências religiosas. Para Newberg, enquanto o cérebro humano for constituído dessa maneira, a religião existirá.
De minha parte, como um bom ateu liberal, aplaudo avanços no secularismo, na medida em que eles tendem a contrabalançar os aspectos mais exclusivistas das religiões, que não raro se consubstanciam em em violência e entraves à educação. Nesse contexto, o advento dos "evangélicos genéricos" no Brasil é uma boa notícia. Mas ao contrário de uma corrente de ateus mais veementes, não chego a ser contra a religião. A exemplo do que se dá com a filatelia, a poesia, o sexo e o rock, se bem usada, a religião pode ser fonte legítima de prazer para os apreciadores.

De hélio schwartsman



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

ESTUDO DIZ QUE ATEÍSMO VAI TOMAR O LUGAR DAS RELIGIÕES





Da FOLHA DE S. PAULO



Carolas, tremei.
Um estudo que será publicado neste mês aponta que, quanto mais desenvolvido o país, maior o número de ateus.
Para o autor Nigel Barber, portanto, chegará o dia em que quase todo o mundo vai se declarar sem religião.
A mudança já estaria ocorrendo. A pesquisa, feita em 137 países, mostra que nas economias mais desenvolvidas o número de descrentes é crescente.
Na Suécia, por exemplo, o índice chega a 64% da população, seguida por Dinamarca (48%), França (44%) e Alemanha (42%).
Na outra ponta, países da África sub-saariana têm menos de 1% de ateus.
O autor aponta razões mercadológicas para a baixa das religiões.
Segundo ele, as pessoas procuram as igrejas para se salvar de dificuldades e incertezas da vida.
Hoje profissionais como psicólogos e psiquiatras podem perfeitamente suprir essa lacuna.